sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alquimia: Magias de adivinhação e o bom andamento do jogo. Parte 1.

Pois é, mais um post, esse saiu do forno atrasado, quase queimou, mas tudo por uma boa causa. Hoje venho trazer uma discussão “breve”, tanto que será apresentada em dois posts, de como magias de adivinhação podem gerar muita diversão, mas também podem acabar completamente com ela.



Nesse post trataremos apenas das magias de discernimento de mentiras.

Se olharmos no livro do jogador de qualquer edição do D&D veremos muitas magias de adivinhação, tanto para conjuradores divinos, como para os conjuradores arcanos. Mas até que ponto o uso de magias como essas, que incluem características como detecção de mentiras e a obrigação de alguém dizer a verdade, podem acabar tornando o jogo incoerente? Veremos isso adiante.

O que são magias de adivinhação: Magias de adivinhação lhe permitem aprender os segredos há muito esquecidos, prever o futuro, descobrir coisas ocultas e detectar mentiras e magias que a encobrem.

Com uma definição dessas, podemos dizer que a investigação já era, pois se necessitamos descobrir algo, basta ter um mago ou sacerdote com as magias de adivinhação necessárias. O que será de um julgamento onde os ali presentes não podem mentir? Ou pra que investigar alguém se podemos abordá-lo e secretamente utilizar magias de detecção de mentiras? Veremos adiante os principais cuidados a serem tomados com os diferentes tipos de magia de adivinhação bem como os principais problemas causados.


Adivinho ou ilusionista?

Magias de detecção de mentiras: Essa, em minha opinião é uma das vertentes que gera a maior falta de contexto em mundos de RPG, como forgotten realms. Vamos pensar no seguinte: os aventureiros começam a investigar um caso em que um dos representantes da cidade está envolvido com a instalação de um culto a um deus maligno na cidade. Sabe-se ainda que muitos tentaram provar seu envolvimento em outros atos ilícitos, mas todos sem sucesso. Os jogadores investigam o tal homem e descobrem possíveis ligações, mas nenhuma prova física. Analisemos agora os fatos: se todos desconfiam do camarada, porque nenhum sacerdote que se preze, de um deus bondoso, foi lá e lançou um discernir mentiras sobre si, fez perguntas capiciosas ao homem e detectou suas mentiras? Incoerente não? Pelo menos eu acho bastante. Acham que isso não acontece? Então leiam sobre as Fronteiras Prateadas, mais precisamente a cidade de Everlund, o nome do homem é Malvin Draga.


O lar de muitos mentirosos.

É fácil perceber que, caso os jogadores adotem essa postura de recorrer sempre às magias desse tipo para solucionar um caso, toda a investigação e intriga pode ir por água abaixo e pontos importantes da história, que dariam brilho a ela vão passar direto e a diversão vai toda embora. Mas muitos podem dizer que o tal Malvin Draga do exemplo pode estar usando algum meio mágico para que suas mentiras não sejam descobertas, isso pode ocorrer, mas apenas a minoria das pessoas vai ter meios mágicos para encobrir suas mentiras. E se todos tiverem esse recurso, a magia será banal perdendo seu sentido. Outros podem dizer ainda que magias como esta requerem testes de resistência, então vejamos, todos os mentirosos irão passar em testes de resistência a magias de 4° círculo e os que não passarem estarão protegidos magicamente? Mais uma vez o jogo perde a coerência se isso for verdade também. E mais, outros podem dizer que o mentiroso pode escolher não dizer nada, mesmo morrendo, e se todos no mundo do jogo que não passarem em testes de resistência ou não estiverem protegidos magicamente não disserem nada, e aind dessem sua vida por isso? Cadê o valor que o individuo dá a sua própria vida, mais um caso de incoerência detectada.


Imaginem se hoje em dia tivéssemos magias de detecção de mentiras?


Mas como fazer para que um mentiroso não seja pego? É mestre, isso é um desafio. Uma proposta minha seria que as grandes organizações trabalhassem em células, e os envolvidos nas mentiras soubessem apenas o que devem saber, sem o risco de que “caso abram o bico” tudo esteja perdido. O que existiria seriam homens que fariam o elo entre as células da organização, esses seriam protegidos e ocultos da sociedade quanto a participação em atos ilícitos, caso desconfiassem deles, esses seriam “substituidos”. Além disso poderiam existir homens contratados para fazer serviços sem saber o porque, caso sejam pegos não saberão porque fazem isso e talvez nem quem os tenha contratado. O ponto bom é que esse recurso irá gerar mais tensão e diversão no jogo, caso seja utilizado de forma moderada. O ponto ruim é que a trama do jogo ficaria muito mais complexa e poderia fundir a cuca dos jogadores, matando a diversão.

Será que é assim que os mentirosos em mundos onde a magia é bastante usada devem aparecer?


Outra solução seria o remodelamento de algumas magias de adivinhação, como já foi tantas vezes discutido aqui no blog.

Espero ter ajudado mais uma vez, e no próximo post pretendo discutir sobre magias de adivinhação de localização de objetos e locais perdidos.

Um grande abraço a todos e lembrem-se, RPG é diversão.

ArantesArantes, nascido no final do verão de 1987, fã de fantasia medieval, sendo assim, não é preciso dizer que seu RPG favorito é o Dungeons and Dragons (principalmente a segunda edição). Conheceu o RPG aos 12 anos com uma versão homemade de Street Fighter; é mestre de DeD desde a mesma idade. Formado em Engenharia Química, e agora obtendo o grau de mestre, o que lhe rendeu, e rende a calvíce. Quer ser professor de ensino superior e quer fazer algo para que se lembrem dele no futuro, no âmbito científico e RPGistico. Presbiteriano roxo, é membro da Igreja Presbiteriana na cidade onde reside aos fins de semana.

4 comentários:

  1. Muito bom o post.

    Um jeito muito legal de lidar com magias de detcção de mentira é a máxima das nossas leis do mundo real: "Não basta saber, tem que provar".

    Um grupo de heróis pode se ver em maus lençóis ao tentar acusar um Duque de estar tramando contra o Rei por exemplo. Conseguir provas contra ele pode render várias aventuras também.

    Outro ponto é o carisma do "mentiroso". Algumas pessoas transparecem tanta sinceridade que conseguem vender bilhetes premiados da mega-sena. Será que o mago usaria detectar mentira em alguém em que ele confia?

    Quanto ao cenário de Forgotten realms bem... Gostava mais do cenário na época do AD&D. Um problema de Forgotten a partir do 3ª edição é o fato das magias e itens mágicos serem muito banalizados... ao ponto de até serem comercializados. Em um cenário com tanta abundância em magia realmente fica incoerente alguém importante ser "passado pra trás" ou ser vítima de intrigas...

    Me perdoem se me prolonguei demais, não resisti =)...

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  2. @Druida e Arantes: gostei do post e do comentário. Por acaso eu estou lendo um livro agora, chamado "The Angel of Darkness". O enredo trata de um alienista (um psicólogo na década de 20) que lidera um grupo na investigação de uns crimes.

    O que acontece é que eles descobrem vários fatos ao longo da história, mas cada verdade que vem à tona parece contradizer outras que já haviam sido descobertas.

    Isso pode ser uma solução: deixar que os jogadores descubram muitas verdades aparentemente contraditórias, mas no fim terão de usar a cabeça para unir as peças do quebra-cabeça.

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  3. @Druida: Obrigado pelo comentário. Realmente seria necessário provar, mas isso em um mundo onde a magia não é tão difundida assim, e magias como detectar mentiras não podem ser usadas a torta e a direita. Mas o que enho visto com os mundo de D&D é essa explosão mágica de acesso a magia, que muitos têm: itens mágicos fáceis, pergaminhos e poções a cada esquina. Aí sim isso atrapalha e muito. Mas ao meu ver é algo que o mestre pode "consertar". Tipo o forgotten 3ª ed., porém é algo que não é fácil e pode gerar desconforto aos jogadores. E sim, caso o carisma do mentiroso seja tamanho, até desistam de lançar uma detecção de mentiras nele, considerando a "idoneidade" que esse mentiroso apresenta perante o povo, que é uma boa solução.

    @o Clérigo: Gostei bastante do comentário. E o que você disse é uma solução também. Ao meu ver, poderia ser atingida fazendo com que mentiras fossem acreditadas como verdade, além das verdades contadas de outra forma e ainda nem todos saberem de tudo, apenas algumas partes.

    Agradeço pelos comentários.

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  4. No meu ver, a magia pode desbalancear muito uma crônica. Cenários como Mystara, O Senhor dos Anéis e atualmente Tagmar sempre me atraíram muito pelo fato da magia existir, mas ser mais rara e menos espalhafatosa.

    Realmente o comentário do clérigo é interessante. Os personagens desistirão de usar detectar mentira quando uma verdade começar a contradizer outra.

    Mas de qualquer forma, magias de adivinhação sempre geraram polêmicas. Eu li uma vez (mas não me lembro onde) que as magias de detecção e de metamorfose são as que mais geram conflitos na mesa =)...

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