sábado, 1 de janeiro de 2011

Aleatório: Religião no RPG


As divindades são importantes em praticamente todos os cenários medievais de RPG. As vezes justamente por sua ausência. Mas será que elas precisam ser encaradas sempre do mesmo modo?
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Certa vez em um tópico de uma certa comunidade do Orkut vi uma discussão bem interessante "religião no RPG". O autor do tópico falava que seria interessante ter varias religiões convivendo em um mesmo cenário, não como um panteão tradicional mas realmente religiões diferentes. 


Imagine por exemplo um cenário "tradicional" com um panteão tradicional. O grupo conta com um clérigo e um paladino e por algum motivo eles acabam indo parar no "oriente" do mundo (acidente mágico/caminho errado/prisioneiros ou qualquer outra coisa). 


Imagine então o choque do clérigo ao se deparar com toda uma religião de culto aos ancestrais, onde não existe uma figura central como um deus e mesmo assim os sacerdotes manifestam poderes divinos. Imagine a confusão na mente do paladino ao ver que os supostos guerreiros santos desta terra não são defensores da justiça, são guerreiros elitistas com uma devoção cega a seus senhores e suas espadas são abençoadas pelos espíritos dos antepassados do samurai. Vocês conseguem ver as possibilidades? E não falo somente do culto aos ancestrais, há vários outros exemplos de religiões interessantes que podem ser introduzidas em uma campanha (ou cenário) vou citar algumas.

Uma religião onde existe apenas um deus criador e nenhuma outra entidade, o mal seria a ausência de deus. Xamanismo, nessa religião acredita-se que inúmeros espíritos vivem no mundo, os espíritos malignos precisam ser apaziguados para não perturbar os vivos e aqueles mais "sociáveis" poderiam ser convocados ou incorporados pelo xamã. Uma religião parecida com o budismo onde a figura central do culto não é um ser superior que dá ordens aos seus servos, mas, um modelo de conduta que deve ser seguida pois a iluminação vem de dentro. E existem muitas outras.
Todos eles convivem em nosso mundo, porque não na sua mesa?
Então um jogador mais purista levanta o dedo em riste enquanto segura seu exemplar do livro do jogador D&D 3ª edição e diz que isso é um absurdo, que isso não pode ser. Então eu pergunto. Por quê? Ele vai e responde que o sistema não permite, que o livro diz que existem tais e tais deuses, que os clérigos recebem poderes de acordo com sua fé e principalmente porque em se tratando de RPG medieval (leia-se D&D e afins) os deuses SÃO forças absolutas e quase tangíveis. 


Quem duvidaria da existência de Pelor ao ver um de seus sacerdotes invocando uma explosão solar no meio da noite e destruindo uma dezena de mortos-vivos? E isso dentro do jogo, fora dele as divindades aparecem em romances, HQs, desenhos animados e etc. em alguns lugares você pode achar fichas de personagem dos deuses. Ou seja na cabeça da maioria dos jogadores (e mestres) de RPG é inquestionável o modo como a religião é apresentada nos livros básicos. Será mesmo?
Nem só clérigos e druidas conhecem os mistérios do poder divino
Vamos pensar um pouco. Deuses tem imenso poder, tanto poder que concedem porções dele para servos escolhidos, os clérigos. Ou seja deuses geralmente se manifestam de maneira indireta. Esqueça um pouco os cenários mais famosos, pense em um mundo mais genérico e mais oldschool, onde você não encontra itens mágicos a venda (não, nem mesmo uma espada +1). Um cenário onde os deuses se manifestam apenas através de seus clérigos e não ficam aparecendo para dar "quests" a grupos de aventureiros (já joguei em um grupo de tormenta onde encontramos Marah, Keen, Nimb e Lin Wu; a gente parou a campanha no nível 5 em D&D). 


Em um cenário assim as pessoas acreditariam nos deuses por costume, e os clérigos por pura fé (fé significa justamente acreditar em algo que não pode ser comprovado). Mas quem poderia garantir a existência deles? Ou mesmo dizer que os deuses cultuados no reino são os únicos existentes? Ou mesmo que eles são a única fonte de poder divino? Esqueça um pouco os personagens épicos e suas botas de saltitar planos. 


Um habitante mundano do mundo de campanha duvidaria do poder dos espíritos ancestrais daquele sacerdote de olhos puxados? Ele duvidaria da força interior daquela homem que prega a auto-iluminação? Isso para não citar os próprios druidas que na minha visão retiram seus poderes divinos do próprio mundo natural e não do contrato com uma divindade. 


Estude um pouco e experimente colocar esse conceito em sua campanha. Pode render boas historias e um grande aprendizado, ou pelo menos um fracasso para se lembrar e rir um pouco.
Hiago AzuredHiago Azured, Roleplayer 4/Powergamer 1; tendência:??? FOR 8, DES 12, CONS 10 INT 17, SAB 9, CAR 15 Além de rpgista é metaleiro, DeMolay, nerd, otaku e agnóstico. Costuma chamar as pessoas de "manolo", tem leve tendência a falar de forma exagerada, joga todo e qualquer cenário/sistema que aparecer em sua frente. Por algum motivo considera a amizade verdadeira uma forma superior de amor. Anime favorito: BERSERK. Mora no Acre e é criador do Crônicas do Nerd Perdido.

10 comentários:

  1. Gostei deste post Azured, começaste com um ótimo assunto!

    Também acho interessante a idéia de basear não apenas as culturas/personagens/cenários no nosso próprio mundo, mas também a religião, que também é uma forma de cultura, embora mais ancestral (não entendo como surgem essas religiões novas, mas as antigas têm razões plausíveis para estarem onde estão hoje...).

    Menos deuses andando pra lá e pra cá, e mais culturas diversificadas nos reinos pelos quais viajarmos com nossos personagens (embora os deuses caminhantes sejam muito legais também :D) \o/

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. (erratado)
    Acho q vale uma passada por Blue Rose, cenário de fantasia medieval da Green Ronin q usa o sistema T20 (mesmo de M&M). Lá, a nação principal, Aldis, tem sacerdotes de um panteão de uns 10 deuses e semi-deuses. Do outro lado, há uma nação mais "pé no chão", conservadora e monoteísta (na verdade, bi-deísta, pois adora a consorte de Leonoth, Maurenna, como divindade secundária). Conflitos ideológicos e religiosos entre Aldis e Jarzon são ponto comum no RPG, mas raramente chegam a enfrentamentos militares, pois as nações são separadas por um... Brejo.

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  4. Salve irmão Azured.
    Muito interessante a matéria.

    Quando eu uso deuses nos meus cenários de fantasia medieval, uso uma idéia de magia divina proveniente da fé comum. Ou seja, se muitas pessoas acreditam em um mesmo deus, ele passa a existir. Ele passando a existir, seus devotos mais fervorosos se tornam clérigos/sacerdotes e recebem poderes divinos baseados no conceito do deus.

    É claro, as pessoas nos meus cenários não acreditam nisso. Elas acreditam que seus deuses são verdadeiros e todos os outros são falsos, e acham que os poderes dos clérigos de deuses "pagãos" são bruxaria ou algo do tipo.

    Isso pode gerar ganchos e até motivação para uma campanha inteira. Talvez um clérigo maligno esteja tentando convencer um séquito de seguidores sobre o seu deus do sangue. Ou existe algum culto secreto ocorrendo nas partes obscuras da nobreza. Entre várias outras possibilidades.

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  5. Adoro cenários em que existem conflitos entre os deuses e os homens, principalmente quando os homens subjulgam os deuses tomando a égide.

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  6. A intenção dos meus posts é justamente essa. Dar um tranco na mente do leitor. De certa forma destruir o que ele sabe para abrir sua mente a um novo mundo de possibilidades e diversão.

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  7. PS:Acho que me empolguei demais no comentário acima.

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  8. KkkkkkkkkkkkkkkKKKKkkkkk Os deuses do caos ficaram muito felizes!! =D

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  9. Muito bom, Hiago. Uma coisa que não me agrada na maioria dos cenários de D&D é a falta de múltiplas crenças. A meu ver, os elfos deveriam ter uma visão de como o mundo foi criado; os anões deveriam ter outra, bem como os humanos. E elas não deveriam se encaixar tão facilmente como nos panteões que os livros apresentam.

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  10. Ta ai uma excelente ideia para uma mudança de cenário. No meu mundo de jogo, costumo ambientar as aventuras na parte norte de um continente, unico que eu tenho escrito na verdade, essa ideia de culturas religiosas completamente distintas são uma boa base para explorar uma nova parte do cenário.

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