quarta-feira, 16 de março de 2011

Lição: O Papel dos Jogadores Parte I

Olá, classe! Estamos quase acabando nosso intensivo sobre como mestrar sem tempo. Nessa lição e na próxima, analisaremos como os Jogadores podem auxiliar no trabalho de seu Mestre. Olhos à lousa!
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Uma das coisas que sempre me deixou furioso nos livros de RPG foi o modo como tratam o Mestre. Primeiro, bajulam: "o Mestre é poderoso", "o Mestre é um jogador especial", "a palavra do Mestre é a final" e por aí vai. Nos sentimos importantes, parece que somos melhores que os Jogadores, mas basta seguir a leitura que começam as ameaças: "é o Mestre o responsável por uma partida memorável", "é você quem é o responsável por tudo", "cabe a você dar o ritmo ao jogo"... alguns Jogadores que até gostariam de ser Mestres desistem ao se deparar com essas afirmações. Balela!

Só ter um bom Mestre não basta, são necessários bons Jogadores! Pegue o melhor Mestre do mundo e dê a ele alguns Jogadores de que já ouvi falar e quero ver sair uma aventura perfeita. Comparando com minha profissão, se é bem verdade que um professor ruim dará uma aula ruim, também é verdade que alunos ruins causarão uma aula ruim. E ruim aqui não está no sentido cognitivo, mas sim comportamental.

Sem mais lenga-lenga, o que quero dizer é que os Jogadores são tão responsáveis pela diversão e sucesso de uma sessão de RPG quanto o próprio Mestre, senão mais! Portanto, hoje, minha conversa é com você, Jogador. É sua hora de auxiliar na campanha!

A disciplina

No início de cada ano, sempre faço algumas combinações com meus alunos, para que possamos "nos aturar" pelo resto do ano. O grupo de jogo, para funcionar, precisa ser disciplinado, manter algumas combinações simples. O próprio Clérigo já fez um post sobre isso aqui no blog. Então, vejamos algumas que mantenho com meus Jogadores:

Disciplina é importante, senão, dá nisso...

- Comparecer às sessões. Vários de nós abrem mão de várias coisas importantes para jogar RPG. O mínimo esperado é comprometimento. Em meu grupo, com dois professores, foi necessário todo um planejamento de horários nas escolas para que pudessemos manter um horário definido. Nossas sessões costumam ir até onze e meia, meia-noite e todos trabalham de manhã cedo, acordando, muitas vezes, às 05:00...
Com todo esse comprometimento, chegar na mesa e ver que o pessoal não veio é, no mínimo, chateante, para não dizer enfurecedor... imprevistos acontecem, todos sabemos, mas são imprevistos, não rotina. Então, se você optou por entrar em um grupo, tenha certeza de que conseguirá comparecer às sessões ou não participe.

- Abolição das bebidas alcóolicas. Não é necessário falar muito sobre isso, certo? Todos sabemos que RPG e álcool não combinam. Aliás, algo combina? Por mais que você esteja tentado a levar aquelas cervejinhas para o fim do dia, você não está indo para um happy hour. Você não irá ficar bebendo e conversando. Isso é uma partida de RPG, não um papo de botequim!

- Evitar ao máximo comentários extra-jogo. Nosso tempo é curtíssimo, certo? Então, se perdermos tempo falando sobre os gols do Time X no último jogo, fica menor ainda...

Sei que muitos amigos encontram-se apenas nessa ocasião e que sempre há o que conversar além do jogo. Para evitar isso, comecem um pouco mais cedo, façam um bate-papo antes da partida e, durante a sessão, concentre-se na história. Eu costumo fazer uma pequena parada para idas ao banheiro e renovação do estoque de refrigerante, momento em que aproveitamos para conversar também.

Sempre separe o mundo real do mundo de jogo (em todos os sentidos!!).

- Auxiliar o Mestre. Ser Mestre de RPG não é fácil: enquanto você está controlando um ou dois Personagens, o Mestre tem todos os outros para se preocupar, além de manter a linha narrativa. Como ajudar? Simples, dividindo as tarefas entre o grupo.

Em meu grupo, cada um possui uma função diferente: um fica responsável por anotar os tesouros, outro anota o que for importante para a história, outro controla a iniciativa e as rodadas, outro desenha o mapa e outro controla os PVs de todo o mundo. Dividir essas tarefas permite focar em outras coisas importantes, como a narração, por exemplo. Até mesmo você, como Jogador, ganhará mais tempo, pois terá apenas uma tarefa: não é necessário anotar e calcular tudo, apenas a parte que lhe foi designada. Vocês não têm ideia de como isso auxilia o desenvolvimento da sessão no grupo.

- Evoluindo seu personagem sozinho. A maioria dos Jogadores já faz isso, mas sempre tem aquele infeliz que aguarda para fazer as escolhas disponíveis para o próximo nível na hora, obrigando toda uma procura e leitura nos livros. Se você já sabe de antemão que irá escolher determinada Perícia, Talento, Aprimoramento, Magia, etc, ficará muito mais rápido evoluir seu Personagem, além de dar mais verossimilhança à história: seu Personagem não aprendeu essas novidades na hora, mas foi construindo ela ao longo da campanha.

- Auxiliar na organização da casa do anfitrião. É fácil chegar, se abancar e esperar que o dono da casa arrume tudo e, inclusive, sirva o refrigerante. Sacanagem, manolo! Vamos dar uma mão ao anfitrião! Todos, até o Mestre, devem auxiliar nisso, afinal, o cara está oferecendo o lugar para que as aventuras aconteçam!

- Manter as fichas atualizadas. Quando a campanha começa, geralmente todos possuem sua ficha limpinha e bonita. Passados alguns níveis ela vira uma sucursal do inferno: rabiscos, borrões e anotações por todo o canto.

Assuma que sua ficha é seu referencial, não a rasure! Ela deve ser como um livro, apenas para ser olhada. PVs perdidos, magias utilizadas e itens ganhos (geralmente, a única coisa que vai mudar) devem ser anotados em um rascunho. Isso também ajuda a não esquecer certos detalhes, por exemplo, seu Personagem foi alvo de uma magia que lhe deixou mais rápido. Se você anotar na ficha "oficial", pode acabar esquecendo e permanecer sempre com aquela Agilidade ou Destreza maior do que o normal. Pode ser bom para você, mas isso é trapaça! Entretanto, pode acontecer o contrário: você não anota na ficha e acaba esquecendo que está sob efeito da magia. Vendo aquele "+2 em Agilidade pelas próximas 2 horas" no rascunho pode salvar sua pele.

- Interprete seu personagem. Se fosse para jogar dados e mover pecinhas iríamos nos encontrar para jogar War ou Banco Imobiliário, não RPG. Assim sendo, "encarne" seu personagem.

Conheça os locais em que ele nasceu e cresceu. Ninguém vai rir se você fizer uma voz diferente, arrumar um trejeito ou se comportar de modo estranho. Você é um RPGista, portanto, é estranho de qualquer modo! Ou você acha normal ficar jogando dados "estranhos", folheando livros com desenhos bizarros, consultando tabelas cheias de número e debatendo sobre a Classe de Armadura do Tarrasque e do Cthulhu?!

Ser RPGista já é algo "estranho" para os outros, então, por que não interpretar?

- Divertir-se. Essa é a principal. Se você acha que a campanha não está legal e não está mais a fim, bom, paciência, apenas comunique ao grupo e caia fora. Nada pior do que um Jogadore desmotivado atrapalhando a partida.

Se o problema é seu Personagem, converse com o Mestre para criar outro. Desde que isso não vire um ciclo sem fim, tenho certeza de que ele permitirá...

Não se preocupe se o grupo irá ficar sem clérigo, ladino, guerreiro, etc... preocupe-se em se divertir. A sua diversão trará diversão ao grupo. Não deixe a falsa modéstia prejudicar um bom jogo.

Então, meus caros, por hoje era isso! Na próxima lição aprofundaremos outros aspectos importantes sobre o bom Jogador, como criação do Personagem, interpretação e outras cositas mas. Um abraço e até mais!

P.S.: não deixem de baixar "O Reino de Bruntoll"! (jabá básico e descarado...).

Prof. AlessandroAlessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade.

7 comentários:

  1. Isso iluminaria a organização de meu último grupo *.*

    Acho que nosso mestre desistiu da carreira por alguns motivos aí descritos... xD

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  2. Valeu por mais este ótimo post, professor. Eu tenho o mesmo sentimento que você descreveu no começo: uma boa partida de RPG depende tanto do Mestre quanto dos jogadores (bem como nossas aulas, já que somos professores).

    A parte que eu mais gostei foi a sugestão sobre dividir tarefas entre o grupo. Eis uma coisa que preciso aprender a fazer.

    E viva Bruntoll!

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  3. Muito bom o post... assim como todos os outros já postados sobre o assunto por você... e Bruntoll com certeza já faz parte do meu HD...

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  4. Com certeza RPG tem que ser cooperativo 50% mestre 50% jogadores.

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  5. Não tinha pensado em dividir o trabalho de mestrar com os jogadores (a parte mais mecânica), boa dica, vou tentar!
    E não sei jogar Old Dragon, mas vou baixar Bruntoll xD

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  6. Professor!
    Excelente post tanto para o jogador quanto para o mestre.

    Sou seu fã já!

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