quarta-feira, 13 de abril de 2011

Lição: O Preço da Experiência Parte II - Jogadores

Olá, classe! Continuando com nossas lições sobre experiências e níveis, hoje meu papo é mais voltado aos Jogadores, mas claro que os Mestres de plantão encontrarão boas dicas. Evoluir é apenas somar mais uns pontinhos em sua ficha? Como escolher o melhor caminho? Olhos à lousa!
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Nada é tão recompensador em RPG do que socar as fuças de alguns monstros, desvendar o enigma misterioso do eremita sombrio e salvar a princesinha no final do dia, correto? Não, claro que não. Para a maior parte dos Jogadores, a melhor recompensa são os XPs.

Mas, afinal, o que os XPs representam? O que ocorre em algumas mesas que já presenciei é uma espécie de "medida de sangue inimigo drenado": se você matou duas dúzias de monstros, ganha seu novo nível.

Ok, você diz, mas isso depende do Mestre de jogo. É ele quem regula a distribuição do XP. Correto, grande parte do trabalho é dele. Mas, e a sua parte? Ou você vai sair de fininho e deixar a culpa com seu Mestre? Não importa qual o método de seu Mestre! Lembre que um bom Jogador deve ser capaz de transformar o Banco Imobiliário em um RPG! Então, vejamos algumas dicas para você evoluir seu Personagem da melhor maneira possível.

Evoluíndo = Aprendendo

A primeira coisa que temos que ter em mente é que evoluir, seja no RPG ou na vida real, é acumular conhecimento, aprender algo novo. Aquele mísero +1 na Tac0 ou na BA que seu guerreiro ganhou nada mais é do que o aperfeiçoamento de suas técnicas combativas. Partindo dessa premissa, ao passar de nível, reflita: o que e como meu Personagem aprendeu?

Se seu sistema possui Perícias, Aprimoramentos e/ou Talentos, a coisa fica mais fácil de explicar. Vamos supor que você criou um ladino com o estereótipo de pirata. Gastou alguns pontos de Perícia em "navegação" ou algo parecido e aguardou ansioso o próximo nível para aprimorar seu dom como capitão de navio! Mas eis que, SURPRESA: o Mestre rola uma sequência de aventuras no meio de um deserto. Apenas me diga como, sinceramente, seu pirata aperfeiçoaria seus conhecimentos em navegação no meio do deserto?

Você sabe jogar xadrez? Bom, e que tal esse xadrez? Adapte-se!

Na maior parte dos RPGs, não há uma regra que freie esse comportamento "passei de nível, aumento o que quiser". É evidente que o Mestre pode intervir e só permitir que o Jogador amplie conhecimentos condizentes com a campanha, porém, será que precisamos ouvir isso do Mestre? Nós, como Jogadores, não conseguimos perceber que determinado desenvolvimento em uma determinada área é impossível em determinada condição?

Em resumo, procure evoluir seu Personagem pensando pelas dificuldades, terrenos e encontros que ele passou. Bom, nosso pirata não viu uma gota d'água, mas, durante a viagem, conversou com alguns beduínos que lhe ensinaram como retirar água limpa do interior de um cactus. Ele poderia ampliar seus conhecimentos em Sobrevivência, não? Ou melhor: aumentar seu conhecimento em "Senso de Direção" (ou algo parecido), já que tanto o mar quanto o deserto possuem horizontes iguais para todos os lados, exigindo conhecimentos maiores de cartografia e astronomia para a localização geográfica.

"E meu conceito de Personagem?", pergunta o Jogador indignado lá no fundo da sala. Amigo, se a sua preocupação é, realmente, o Roleplay, deve ter em mente que há coisa que simplesmente são inverossímeis! Já usamos exemplos in game, vamos analisar uma situação na vida real: um soldado do Exército brasileiro, treinado em combate na selva, seria de pouquíssima utilidade em uma tundra, correto? Ele não perderia seus antigos conhecimentos, mas precisaria adaptar-se às novas condições. É isso que torna o RPG divertido: superar os desafios propostos! Então, se você usou mil e um combos para criar um Bárbaro Frenético e sua campanha possui poucas batalhas, é hora de dar um novo rumo e pensar como esse Personagem encrenqueiro iria se virar em uma sociedade mais pacífica.

Magos, Clérigos e Bardos

Então você é um usuário de magia? Bom, e de onde saíram aquelas magias adicionadas ao seu grimório na passagem de nível? Simplesmente brotaram em sua mente? Não, meu amigo: elas surgiram da pesquisa realizada durante a campanha, mesmo que ela tenha se resumido à leitura de alguns pergaminhos encontrados pela jornada.

Você é um mago? Por que não contar como foi aprender suas novas magias com seu antigo mestre? Ou, quem sabe, pedir ao Mestre uma aventura sobre um grimório perdido em uma supostamente abandonada torre arcana? Nada impede que os Jogadores deêm ideias para futuras aventuras! Sempre dê um passado para suas magias, isso as tornará únicas e mais significantes, além de fornecer excelentes ganchos de aventuras para o Mestre. Lembre-se: ele não é o único responsável pela diversão e narrativa. Você pode ser um dos protagonistas, mas também é um dos autores. Imagine que bacana seu mago visitando seu antigo mestre, em busca de novas magias e ele lhe respondendo: "mas é claro! Apenas traga-me um ovo de cocatriz e duas escamas de dragão vermelho como pagamento"... aventura, aí vamos nós!

Tá vendo como mesmo um aprendiz pode ser um problema?

Ah, mas você é um bardo? O que foi dito sobre magias também vale para suas músicas. Ao longo das aventuras, você compos novas cantigas, capazes de liberar novos efeitos mágicos. Sinceramente, poucas vezes vi um Jogador interpretar um bardo descentemente... poxa, ele não é um maguinho/ladrãozinho/guerreirozinho... ele é um trovador, um contador de histórias! É uma pena que, ao menos a maioria, escolha-o apenas pela versatilidade. Em meus primórdios RPGísticos, quando não tínhamos acesso a nenhum livro de RPG além do Invasão, fizemos uma adaptação de Forgotten Realms e um dos Jogadores quis ser um bardo. Como apenas conhecíamos o bardo histórico, ele virou um guerreiro que contava histórias e cantigas. Creio que foi um dos poucos bardos genuínos que vi. Cristian, o Jogador em questão, criou até um livro de poemas com os versos de seu Personagem!

Agora alguns dirão: "ah, mas os clérigos recebem as magias de seus deuses!". Sim, recebem, mas, como? Matando alguns monstros e pronto? Não! O clérigo deveria pregar sua fé pelo mundo, não ser um guerreiro dotado de um kit de primeiros socorros! Durante as aventuras, fale sobre seu deus, grite seu nome durante as batalhas, descreva sua devoção! Aí sim você poderá dizer que ele recebeu suas magias de seu deus. Não confunda isso com adoração real: uma coisa é o Personagem, outra o Jogador. Não, você não deve realizar rituais reais em nome do deus fictício de seu Personagem também fictício.

Quanto aos feiticeiros, druidas, rangers e paladinos, a regra é a mesma. Seu Personagem deve pesquisar os efeitos mágicos que pretende aprender, seja visitando um druida eremita, indo até um cavaleiro de posto mais elevado, enfim... faça com que o aparecimento das novas magias faça sentido no mundo de jogo.

Pensando no Futuro

Quem já jogou Diablo II deve saber a desgraça que é gastar um ponto de habilidade em algo completamente inútil (como a aura "Thorns", do paladino). O mesmo vale para o RPG de mesa. Aliás, aqui as coisas são bem piores! Nos jogos de computador, geralmente você pode aguardar e ganhar mais alguns níveis para daí gastar seus pontos. No RPG de mesa, isso não é possível.

Então, o que fazer? Planejar o futuro de seu Personagem, oras! Logo na criação, já pense em que caminho seguir. Se for em Old Dragon, seguirei alguma especialização? Se sim, qual? Se eu pretendo que meu Homem de Armas torne-se um Bárbaro, por que já não interpretá-lo desse modo? Como? Ora, mesmo sendo um Homem de Armas, comporte-se como um Bárbaro. Você não precisa de regras para simular comportamentos. Na campanha de Old Dragon que jogamos nas férias, meu personagem era um elfo ladrão. Se continuássemos (Maurício, prepare as aventuras de dezembro), eu iria adquirir a especialização Bardo. Assim sendo, eu já fazia coisas que um bardo faria, como tentar persuadir as pessoas, cantar nas tavernas, contar histórias, etc...

Todo mundo sobe de nível de vez em quando.

Em D&D (3.x), a escolha de Talentos, magias, classes e classes de prestígio fornece tantas opções que as chances de surgir um "João faz tudo, mas não domina nada" são grandes. Pense em um arquétipo para seu Personagem: ele precisa ter um plano para seu futuro! Se ele vai ser um ladino rápido e furtivo, para que gastar pontos em Intimidar e Força?

Sempre pense previamente. Além de evitar erros de escolha, facilita o background de sua evolução. Nosso pirata, por exemplo, poderia falar com o Mestre antes mesmo de entrar com seu Personagem no deserto: "quero aprender técnicas de sobrevivência". Trace objetivos para seu Personagem e, conforme ele for galgando níveis, faça as escolhas corretas.

Uma dica pessoal é procurar pelos artigos escritos por Skip Willians sobre as classes ou mesmo os livros vermelhos. Tudo que puder esclarecer e dar opções a seu Personagem será bem vindo! Hum, isso renderia um bom post, não acham? Não sobre "combo builder", mas como "evolução interpretativa".

Bom, galera, por hoje era isso! Sigas as dicas acima e não deixe que aquele "+1" em seu nível fique apenas no papel. Na próxima lição, dicas para nossos Mestres no quesito XPs e evolução. Um abraço!

P.S: quem quiser apresentar sugestões para futuras lições, deixe aí embaixo, nos recados.
Prof. AlessandroAlessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade.

11 comentários:

  1. Post longo, mas excelente, professor! Gosto muito de fazer isso, de vincular a progressão com o que o personagem aprendeu. Pra mim isso é a essência da experiência.

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  2. Ótima lição, Professor :D

    Concordo... os jogadores deveriam prestar mais atenção na interpretação e gastar seus XPs de acordo com as EXPERIÊNCIAS vividas por seus personagens :)

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  3. Muito bom, Professor! Gostaria de um dia assistir uma aula sua, haha.

    Como um bom jogador de RPG's de fórum, prezo muito o Role-play, muitas vezes meus companheiros reclamam dos meus posts ultra-mega-gigante com ações simplérrimas do meuj personagem, pensamentos e tudo mais. Quando eu estou jogando RPG seja qualquer que tipo for, eu conto a história do meu personagem durante o jogo e com meu Clérigo Maligno não vai ser diferente!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. @Mithr como assim clérigo maligno??? Como ousa aparecer diante de mim e se auto-proclamar servo do mal??? (isso deve ser coisa do Dr. Nosferatu, aquele maledeto!)

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  6. Nossa o Dr. Nosfaratu tah conseguindo nos levar para o lado negro, pois quando eu jogava Tormenta antes eu só jogava de Druida e agora to de Sacerdote Negro...

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  7. Depois de percebermos que o Dr. Nosferatu poderia ser algum de nós, acho que esse alguém escondeu seu alter ego (Dr. Nosferatu).

    Deve demorar pra ele aparecer de novo.

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  8. O nosfa é assim... se embrenha nos esgotos por duas semanas e aí ressurge para me atormentar... maledeto!

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  9. Mais uma ótima aula...

    Mestrando, eu sempre cobro coerencia na evolução. Um guerreiro não pode aprender pericia com lança, apenas pq tem o ponto e quer gasta-lo, tem que ter tido um minimo de treinamento e pratica. Assim como um mago não vai aprender magia apenas pq quer, tem que estuda-la. Cobro também isso em pericias e talentos. Pode até gastar o ponto entre um nível e outro, se tiver um fundamento para isso.

    Um exemplo disso, na campanha anterior a que eu mestro hoje, o ladrão do grupo em nível 10, quis se tornar um arqueiro (no meu jogo uma classe), ele entrou numa guilda e nela ficou por um ano, até sair de lá no nível 1 de arqueiro.

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  10. Trabalho em silêncio caro sacerdote.
    Texto muito bem formulado, Parabéns Professor Alessandro.

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