quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cantiga do Trovador: O Necromante no Monastério



Após um breve (breve???) período de falta de criatividade para uma Cantiga, retorno àqui com uma história que passou-se tempos atrás num antigo monastério. Segundo cantam os antigos bardos, tentarei reproduzir a cantiga aqui, embora possa perder um pouco da fidelidade ao original, pois o idioma em que ela foi originalmente cantada já perdeu-se nas brumas do tempo, e esta versão é deturpada. Contemplem o Necromante no Monastério!


I

Luz rubra irrompeu pelo santuário
E de longe se ouviu som estrondoso:
Rugido de um ser que é, do bem, precário.

"Quem houve de invocar-te, ó monstruoso
Ser infernal do fundo da planície
Abissal, lugar vil e horroroso?

Volve já ao teu domínio de imundície,
Para que a Santidade àqui retorne!"
Tais palavras um bom clérigo disse.

De pronto, o pavoroso ser bicorne,
Gigante, avermelhado, respondeu:
"Vim pra que em escuridão tudo se torne,

Clamado pela voz do escravo meu,
Aquele necromante que, em disfarce,
Recebeu caridade qual um plebeu,

Ludibriando a todos, e com classe."
Um gargalhar profano tomou conta
Do solo abençoado donde nasce

Outrora a fé no deus que, santo, monta
No seu cavalo de patas de brasa:
Vagando no céu, junto ao Sol, desponta.

O plano de conquista que já se atrasa
Há tanto tempo, foi concretizado,
Pelo menos em parte, na sã casa,

E o orgulho do mago malfadado
Cresce, enquanto o demônio de poder
Destrói o monastério, incontrolado.

Numa busca, porém, foi suceder
Que o necromante foi pego no ato
Com seu grimório; ritos a fazer.

E mutilados no chão de seu quarto,
Corpos de vagabundos e mendigos,
Acolhidos tão bem como esse ingrato.

II

Sentindo horror, o clérigo do antigo
Mosteiro partiu contra o profanante
Arcano, a bradar louco co'o perigo

Que se desenrolava, fulminante,
A destruir o que ele acreditava:
Sua casa, sua razão de ir adiante.

Distante, noutro plano, lhe escutava
Seu deus (a proteger o sacerdote),
Que co'a divina força lhe prestava

Auxílio contra o maldito chicote
Das trevas que ao maligno feiticeiro
Domava e lhe tornava num mascote,

Pois que o mal mais completo e verdadeiro
Estava longe de sua contenção
Na loucura e no fogo desordeiro.

Pôr um fim no pecado e perversão
Que ali estava a ocorrer foi decidido
Pelo santo que viu-se sem opção:

O crânio do inimigo foi partido
Pelo golpe da tão pesada maça,
Empunhada por um servo querido.

Apagando velozmente, com graça,
O circulo de invocação no chão,
Intencionando que o mal se desfaça,

O clérigo naquela situação
Destruiu um grande mal,
Sendo por fim o alvo de uma unção

Destinada só àqueles de uma tal
Santidade que só os deuses superam.
Assim nasceu a lenda clerical

Dos monges que, sozinhos, detiveram
O demônio que lhes desafiou.
Na morte, aqueles co's deuses tiveram,

E nenhum mal depois eles tentou.

8 comentários:

  1. Poxa vida, isso é que eu chamo de Clérigo! Ninguém mandou o necromante se meter com ele, rsrsrs.

    Que isso sirva de aviso ao maquiavélico Dr. Nosferatu: mexer com um Clérigo em seus domínios não é uma boa ideia.

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  2. Nossa ficou MUITO LOKA essa história!!\o/

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  3. Que bom que gostaram xD

    Pessoal, c'mon, joguem mais moedinhas (comments) pro bardo que canta essa história (desafinado, mas canta xD)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Nossa! Achei incrível a história, principalmente por ser em formato de poema. Parabéns.

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  6. @Mestre Walla, aguarde que em breve a coisa vai ficar mais brutal (e conseqüentemente mais maligna) xD

    @Aramil, fico feliz que tenhas gostado. Brevemente teremos mais Cantigas (dependendo do humor de um certo bardo/mago, mas teremos...) : )

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  7. Muito bom, vou ler os antigos pois ainda não li e dou minha opinião sobre eles também.

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  8. Acho que as versões malignas são mais chamativas que as "normais" porque se alguém é um vilão então ele é um cara super destruidor, e todo mundo quer ser um cara super destruidor.

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