sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alquimia: Espadas e afins não nascem em árvores

Primeiramente, um bom final de semana a todos. Vamos ao que interessa, hoje falaremos do quão acessíveis são as armas em um mundo medieval, visto que, em alguns mundos, parece que qualquer camponês tem uma espada e sabe utilizá-la.

Pois bem, em minhas andanças como mestre tenho visto que muitos jogadores, e até mesmo mestres tem a impressão (algumas vezes inconsciente) de que em um mundo de fantasia medieval, as armas são acessíveis ($$) a quase todos os habitantes desse mundo. E mais, que a maioria dos habitantes SABE como manusear uma espada.

Essa falsa impressão de um mundo totalmente militarizado, onde as armas são acessíveis a qualquer um foi imputada em nossas cabeças por vários motivos, sendo a meu ver os principais, filmes que focam em determinada região ou localidade que é realmente militarizada; e os inúmeros jogos eletrônicos (incluindo os MMOs) que por décadas nos divertem. Onde a maioria na cidade tem algo a ver com a história do jogo e apenas 40 – 50% dos personagens são cidadãos comuns. Antes de crucificarmos os jogos, vejamos que não seria possível colocar inúmeros “camponeses” nesses, então para que a coisa fique mais prática, os jogos são feitos da forma como os conhecemos.


Um jogo que é mais ou menos como falei mas que é muito bom.


Estaria esse “achismo” correto? E eu já respondo; depende do tipo de jogo que você quer pra sua mesa. Vejamos.

Imaginemos um mundo de fantasia medieval bastante verossímil e semelhante ao nosso período medieval ou ao início do renascimento. Fazendo um paralelo com nosso mundo (na época medieval) veremos que a maior parte da população estará na base da pirâmide social, os trabalhadores comuns, exercendo profissões como artesãos, alfaiates, coureiros, cocheiros, estalajadeiros, fazendeiros e uma infinidade de outras imagináveis.


Pirâmide social medieval: de cima para baixo temos o Rei, Clero e Nobreza, soldados e por fim os camponeses.


Agora pensemos em quanto um trabalhador como esse ganharia em um mês; segundo o livro do mestre de AD&D seria algo em torno de 1 peça de ouro para um trabalhador braçal a 10 peças de ouro para um caçador, e os que ganhariam mais receberiam 200-600 po caso seja um embaixador ou 200 po para um arquiteto. Aí vai minha pergunta: Sabendo que uma arma de lâmina custa em média de 5 a 10 peças de ouro, um trabalhador comum teria condições de comprar um equipamento desses? Muitos diriam que ele poderia juntar dinheiro e comprar, e eu concordo; mas será que a maioria faria isso? Pois é, acho que não. Apenas profissionais que tivessem empregos que não os de base, como o embaixador e o arquiteto do exemplo teriam condições, e mesmo assim eles ainda teriam que ter um motivo para adquirir e saber usar a arma, o que não é nada fácil. Para se ter uma idéia, os guerreiros e soldados treinam o manuseio de armas desde crianças.


Usar uma espada com habilidade requer treino, e treino requer tempo e dinheiro.


Esse foi apenas um dos problemas, vejamos outros ainda mais plausíveis. Será que em um mundo fantástico medieval, um grupo que não faz parte da milícia ou exército, andando armado até os dentes com espadas e arcos pela cidade é uma coisa normal? A meu ver não é, visto que podem causar bastante problema. Imaginemos uma briga de taverna, e um cara ataca o outro com uma espada, conseguimos um problema. Agora estendendo ao tratado aqui no post, em uma cidade onde todos andam armados, o número de problemas sendo resolvidos na “ponta da faca” vai aumentar. Creio que uma região assim entraria em colapso bem rápido. Traçando um paralelo, é só imaginar dar uma arma de fogo para cada cidadão em um engarrafamento e vejamos no que dá.


Em brigas de camponeses as armas são geralmente adagas, facões, pedaços de pau e garfos de feno. Não espadas, machados de batalha, maças, arcos e bestas.


Outro ponto agravante; forjar uma arma não é algo rápido, segundo o livro do jogador de AD&D, forjar uma espada demoraria em média 30 dias e uma armadura 2 semanas por ponto de proteção, flechas seria 1d6 por dia e a ponta 10 dias. Isso diminui muito o número de armas disponíveis, o que dirá então as mágicas, dificultando ainda mais o fato de qualquer um possuir uma espada.


Fazer isso tudo deve demorar bastante, e dar muito trabalho!


Ué, mas aí os leitores se perguntam e me perguntam: “Você acabou com o RPG pensando assim, o mundo é fantástico, é um mundo de espadas e dragões, e monstros, se ninguém pode ter uma arma como é que fica?” E eu respondo, é um mundo de mercenários, de aventureiros, mas que ainda assim são, ou pelo menos deveriam ser, uma pequena porcentagem da população, até porque se existirem muitos aventureiros não vai haver quem faça o resto do trabalho pro mundo girar. E quem vai utilizar armas? O principal comprador de armas é o próprio reinado, pois é ele que necessita armar seu exército para ir à guerra, os aventureiros e outros que desejam, apenas pegam uma carona e compram algumas armas também. Ferreiro não faz só arma e armadura, e aliás, fabricar armas e armaduras requer técnica, e uma boa técnica.


Ferreiro não faz só armas e armaduras.


Agora como o mestre pode fazer para mudar essa impressão do grupo? É relativamente fácil, tudo isso está relacionado à interpretação e a descrição do mundo que é dada pelo mestre, a primeira maneira é utilizar a guarda da cidade causando problemas aos jogadores por causa de suas armas e pedindo que as guarde; a segunda é mostrar aos jogadores, através de descrições que a maioria do povo não usa espadas, maças, bestas e arcos (adagas podem, elas são quase os canivetes medievais); e por último não utilizar qualquer personagem do mundo como alguém que sabe usar uma arma e que pode representar uma ameaça ao grupo, porque afinal, a maioria da população não tem condições ou interesse de possuir uma arma.


Em uma feira medieval as armas NÃO são os principais produtos.


Quanto a mim, prefiro jogos verossímeis (como o descrito acima), a não ser que seja uma espécie de velho oeste medieval, onde todos estão armados mesmo. Mas caso prefiram mundos onde espadas e afins são objetos fáceis e que não causam problemas, está tudo bem. Afinal, é tudo RPG mesmo e o que conta é a diversão.

Mas pensem bem, um mundo medieval onde quase todos sabem usar uma arma, é um mundo que não precisa de aventureiros, porque de fato todos já terão aptidão a sê-lo.

ArantesArantes, nascido no final do verão de 1987, fã de fantasia medieval, sendo assim, não é preciso dizer que seu RPG favorito é o Dungeons and Dragons (principalmente a segunda edição). Conheceu o RPG aos 12 anos com uma versão homemade de Street Fighter; é mestre de DeD desde a mesma idade. Formado em Engenharia Química, e agora obtendo o grau de mestre, o que lhe rendeu, e rende a calvíce. Quer ser professor de ensino superior e quer fazer algo para que se lembrem dele no futuro, no âmbito científico e RPGistico. Presbiteriano roxo, é membro da Igreja Presbiteriana na cidade onde reside aos fins de semana.

12 comentários:

  1. Olá galera, sou novo aqui, mas sou antigo em um dos jogos mais divertidos da
    ongame o "HeroOnline" não sei se todos
    já ouviram falar, mas estou divulgando para que todos possam
    entrar e conhecer este Game acessem o site e baixem o Cliente:

    http://hero.ongame.com.br/download/client.php?men=1

    Vou deixar um vídeo só para vocês terem uma idéia de como é o Game,
    vejam outros vídeos se intereçarem também, meu nick name no jogo é "kiradaisho" te
    vejo lá!!!

    http://www.youtube.com/watch?v=gEHCBv8j6DI

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  2. Isso é um apontamento bacana. Nas nossas aventuras, sempre fica claro que nosso "espécie" - aventureiros - são uma coisa rara, e geralmente poucas cidades são militarizadas, a não ser as maiores e aquelas que representam o baluarte de uma raça, como grandes cidade de anões e elfos Pequenas vilas e cidades geralmente não tem soldados ou pessoas armadas. Acho que dá um clima bacana e mais coerente.

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  3. Colocação interessante. Acho que também pecamos (eu, pelo menos) nas descrições dos monstros humanóides. A maioria dos goblins é descrita como portando espadas curtas (tá, os meus goblins...), de acordo com sua descrição nos livros de monstros (maças-estrela no D&D 3.5, mas o exemplo se aplica à elas também) sendo que se já é difícil para as raças civilizadas possuírem essas armas, isso seria ainda mais difícil para uma raça bestial que vive à margem da sociedade (a menos que esses goblins estivessem a serviço de um lorde maligno, talvez). Mesmo que fossem armas roubadas, um carregamento de armas assim seria raro e muito bem protegido (e daria uma baita "side quest"). Via de regra, acho que goblins (e outros humanóides bestiais) deveriam estar armados com lanças, clavas, fundas e outras armas rústicas, reservando-se as armas "boas" (espadas, machados, bestas, etc) apenas ao líder do bando.

    Desculpem, acho que falei demais.^^

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  4. Otimo material cara...

    Você citou coisas muito importantes. Quando analisamos a fundo a questão de preço das coisas, é claramente visualizado que "O jogo muda" completamente.

    Depois que passei a dar mais importancia ao dinheiro, meu jogo mudou.

    No Reduto do Bucaneiro fiz dois posts que lidam diretamente com dinheiro

    http://redutodobucaneiro.blogspot.com/2011/03/salarios-soldo-de-militares.html para dar uma noção de quanto ganha um militar e quanto valeria 1PO

    http://redutodobucaneiro.blogspot.com/2011/07/dica-de-mestre-invencoes-e-custos.html para mostrar que exercitos são fontes inesgotaveis de dinheiro.

    Até mais Sacerdotes!

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  5. Compartilho desse pensamento mais "realista" nos jogos medievais. Acho que qualquer jogo de D&D vai ser de fantasia, mas essa fantasia só será medieval se o cenário estiver baseado num mundo onde os valores, cultura e modo de vida reflitam àqueles da Idade Média real. Os pilares do medievalismo são o mundo agrário, feudal, e religioso. A economia era baseada em trocas, amonetária, a maioria das pessoas nem chegava a possuir moedas (que eram raras), apenas trocavam o que produziam pelo que precisavam. Especificamente quanto às armas, elas não eram apenas caras, na maioria dos países era proibido que servos sequer possuíssem armas, esse era um direito da nobreza e dos homens livres.
    Nas minhas mesas procuro dar esse toque de rusticidade e precariedade nos mundos medievais. Já mudando um pouco o assunto, mas seguindo uma linha parecida de raciocínio me recuso a colocar lojas de ítens mágicos nas minhas campanhas, acho que mesmo uma espada +1 ou uma poção de cura precisam de algum quest, ou no mínimo convencer e negociar alguma troca com um pdm que os possua. Ótimo post!

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  6. Concordo com esse sujeito ai do post.

    Armas não seriam fáceis de comprar, nem mesmo de usar DA MELHOR FORMA possivel.

    Mas como o mundo é do mestre é ele que decide, pois não sabemos dos costumes e moral média dessa "idade media" do mundo fantastico.

    Puxando para os dias de hoje, servir ao exercito é obrigatório, em regra todos sabem usar uma arma, contudo, uns melhores que os outros. Isto fica totalmente discricionário ao mestre.

    Mas o mundo mas legal de jogar são os que armas de metal são caros e chamativos, o que n dirá armas mágicas. Muitos olham (imaginam) um MU Online na mesa de rpg.

    Desculpa pela redundância do que eu disse e por repetir quase tudo aquilo que o autor falou.

    Em suma eu concordo com ele

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  7. Ótimo post muito bom mesmo a veracidade em um jogo de RPG é um conceito que alguns mestres deveriam tomar nota, acho que dá um "banho de realismo" nos jogadores pode trazer um pouco mais de desafio e também de diversão!

    pbs: pessoal passem no Falando de RPG e deem uma foça com seus comentários

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  8. Ao ler o post lembrei daquela cena em O Senhor dos Anéis: as duas torres, em que a peãozada de Rohan recebe umas armas pra se defenderem dos orcs. Ali vc vê que tinha uns marmanjos que nunca tinham pego uma arma antes, afinal, espadas não nascem em árvores mesmo.

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  9. Ótimo post mesmo. Gosto de manter as crônicas com um "pé-na-realidade".

    Na minha opinião, permitir que a maioria dos habitantes portem e saibam usar armas é o mesmo que tirar aquela sensação de que os PJ's são pessoas acima da média.

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  10. Adorei esse post. Sempre goste de um medieval mais pé no chão e confesso que embora sempre me preocupe em limitar magias e monstros, nunca me atentei a essa questão do armamento.

    Engraçado que enquanto estava lendo, já estava pensando em colocar meus goblins com adagas e o Troll do Brejo falou a mesma coisa...hehehhe

    Parabéns, Arantes, continue assim!

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  11. Excelente post cara, realismo da cor e dor ao jogo!!

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  12. Obrigado a todos pelos comentários, e concordo com todos aqui, monstros comuns com armas bem trabalhadas é realmente algo estranho a não ser que tenham sido roubadas hueheehuheue

    Mais uma vez agradeço a todos!

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