sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Conto: Chloroform - O início

Esse projeto começou há quatro anos, quando entrei para a faculdade.
Sempre pensei nele como um roteiro para anime, ou mangá. Mas nunca me agradou a idéia de escrever como um name ou algo do tipo. Sou muito chata e perfeccionista para fazer alguma coisa nas coxas. Por isso escrevi como se fosse publicá-lo como um livro, mas como a intenção é divulgá-lo como animação, muitas descrições de sentimentos e encheções de linguiça costumeiros foram deixados de lado, a fim de que as informações estejam bem claras.
Do mais, boa leitura.

Aguardo comentários. ^__^


As pedras frias faziam silêncio naquela madrugada, com exceção do barulho da água que caía e os passos de metal. O subterrâneo do castelo era um local sujo e gélido. Estava conectado ao canal da cidadela, por isso, era também um local úmido e pouco agradável. Poucas pessoas andavam por aquelas bandas, exceto os soldados que faziam a ronda noturna. Mas eles estavam cansados e tensos, uma terrível guerra civil mudara suas rotinas. E naquela fatídica noite, eram apenas dois.

- Ah, não agüento mais! - reclamou um deles, chamando a atenção do outro, que se virou para ouvir – Nós estamos aqui em baixo tomando conta desse lugar lodoso enquanto a batalha está a todo o vapor lá em cima!

- Mas do que está reclamando? Lá em cima não é o nosso lugar; deveria estar contente de servir para algo mais além de sujar o pátio do castelo com suas tripas! – rebateu – E a propósito, não estamos aqui à toa. Esse canal, há alguns anos, foi o motivo da queda do Reino de Avinash. Conta-se que existia uma passagem secreta que conectava a floresta do Leste a esta fortaleza. Essa passagem foi usada para que o próprio Lorde Guorthigern penetrasse nas defesas de Avinash e derrubasse seus inimigos, instaurando assim o Império de Savassa que conhecemos hoje.

O outro soldado ficou em silêncio.

- E é por isso, meu ignorante colega, que nós temos que guardar esse “lugar lodoso” com nossas vidas.

- Sei... – resmungou o outro – Mas me responde uma coisa então, “sabichão”. Se é tão importante para a segurança do castelo... então, porque exatamente colocaram só duas pessoas aqui?!

- Hãm... bem... Muito provavelmente, deve ser porque o Imperador não quer chamar a atenção... E também... porque não tinha mais ninguém para vir pra cá...

O outro resmungou, mas tinham trabalho a fazer. Sem muito mais o que conversar, os dois voltaram para suas devidas posições, em silêncio, mal sabendo que estavam sendo observados.

No alto, alguém se escondia nas sombras.


Vinte metros acima, acontecia uma verdadeira matança.

A chuva forte limpava o sangue dos que caíam ao chão, levando embora o cheiro de morte que predominava próximo aos pesados portões do castelo. De ambos os lados lutavam homens com couraças metálicas que lhes protegiam o corpo.

- ABAIXO O TIRANISMO DE MEGGION GUORTHIGERN! – berrou um dos invasores, instigando seus companheiros à coragem. Contudo, essa bravura não o impediu de ser trespassado pelo fio de uma espada reluzente.

O dono da espada exibia uma calma tão aterrorizante que muitos de seus inimigos fugiram de sua presença. Alguns poucos se atreviam a dar-lhe combate, mas encontravam o mesmo fim.

- Capitão Pieter! – gritou um dos soldados imperiais vindo a seu encontro – A ala principal foi contida, mas alguns dissidentes conseguiram invadir a Catedral. Quais são suas ordens, senhor?
O capitão ficou em silêncio por alguns segundos. Deu um leve sorriso antes de prosseguir.

- Como o esperado. Esses hereges receberão o castigo que merecem por intervenção divina.

Dentro dos muros do castelo, três jovens subiam as escadas com muita pressa. Duas delas usavam vestidos bem simples e parecidos, com um lenço na cabeça. O uniforme da criadagem. Mas a terceira estava com sua figura escondida sob um pesado e escuro manto. As três entraram num quarto espaçoso, ouvindo apenas o barulho da chuva lá fora.

- Elora, você é louca?! Se nos pegam aqui futicando as coisas da Imperatriz, vamos perder as cabeças no próximo fim de semana! – disse uma das criadas, correndo atrás da misteriosa garota.

- Se nos descobrirem. Se.

- Isso não está certo. – continuou a outra criada, agora olhando para os lados, cada vez mais desesperada – Você vai acabar arranjando encrenca para todas nós, inclusive para o seu padrinho!

- Muita calma, vocês duas. Eu já disse que só preciso conferir uma coisa antes de voltarmos para a capela. Só quero olhar.

- Então seja rápida, por favor!

A moça se dirigiu até um baú muito bem lustrado e o abriu, concentrada. Revirou papéis até achar um caderno com pedras incrustadas em sua capa.

Um sorriso surgiu em seu rosto escondido.

Enquanto se mantinha ocupada, uma das servas parecia um tanto inquieta. Olhou para o corredor, como se esperasse por alguém.

Uma das velas dos corredores tremeluziu. Uma sombra estranha se aproximou.

- Cama real, esquerda, direita, esquerda. Quarta janela. Segunda gaveta. – sussurrou a empregada, como que para o vento.

A sombra desapareceu.

- Como eu bem imaginava... – resmungou a jovem encapuzada com desgosto para a pequena tranca que se encontrava na capa – Ela deve manter a chave consigo... – murmurou perdida em pensamentos.

- Elora!

A jovem voltou à realidade com um suspiro de decepção.

- Está bem, vamos. – disse por fim, guardando tudo como tinha encontrado. Como se nada estivesse passado por ali.

Apenas uma sombra.


Enquanto caminhava pelo campo de batalha, o capitão das tropas analisava minuciosamente o resultado da empreitada: os invasores estavam completamente dominados. Ele se dirigiu até um homem na casa dos cinqüenta anos, com barba longa e cabelos grisalhos, mas que nem de longe poderia ser chamado de idoso. Tinha o físico invejável e cheio de presença, jamais passando despercebido pelas pessoas ao redor. Assim como os outros soldados, também havia se envolvido nas lutas e limpava a lâmina da própria espada nas vestes de um soldado morto.

- Noventa e três é um número demasiadamente alto para uma invasão como essa. – disse pensativo com uma voz potente, enquanto o capitão às suas costas se ajoelhava em reverência – Concorda, Pieter?

- Os moradores da cidade devem ter dado suporte a isso, Majestade. Acredito que abrigaram os dissidentes aos poucos para não chamarem a atenção, até o momento oportuno para o ataque.

- Como sempre lendo meus pensamentos. – e se virou para encará-lo.
O Imperador era um homem glorioso. Mesmo Pieter, com sua tenez morena e olhos dourados, físico forte e intimidador, não se comparava à figura majestosa de Meggion Guorthigern. O governador de Savassa exibia um semblante de sabedoria e altivez que fazia jus ao seu cargo de poder.

- Se bem o conheço, já terá tomado as devidas providências com os capturados.

- Sim, Majestade. Assim que forem todos reunidos, serão levados a interrogatório. Como o senhor suspeitava, a Catedral foi o segundo ponto mais visado. A gaiola funcionou perfeitamente.

- Bom. Muito bom.

Na mais alta torre, o quarto do Imperador se destacava dos demais cômodos por uma grande sacada. E ninguém notaria a presença de um estranho que escalava as paredes de pedra da grande construção. Com vestimentas escuras, estava completamente camuflado na escuridão da noite. Chegou até a sacada com um movimento gracioso de um profissional. Deslizou para o interior do aposento olhando furtivamente ao arredor, se aproximando da cama de carvalho pesado no centro do cômodo.

Esquerda, direita, esquerda.

Utilizou menos de um minuto para localizar e manusear o dispositivo debaixo da cama, que com o soar de um clique, revelou uma passagem secreta na parede da mobília. Uma longa escadaria se projetava para além da escuridão. E sem mais delongas, começou a subir os degraus.

- Mas pelo Sagrado Criador! O que pensam que estão fazendo?!

O sacerdote da grande Catedral estava com os nervos à flor da pele com todo aquele alvoroço na capela.
De fato, estava uma verdadeira confusão. Eram soldados imperiais correndo de um lado para o outro, cercando seus oponentes como lobos correndo atrás de ovelhas. Uma grande jaula dividia a catedral em duas áreas e cerca de vinte cabeças se encontravam na parte de dentro das grades. Os poucos homens que escaparam da emboscada não se entregaram facilmente e travavam um violento combate.

- Esta é a Casa de Yenros! Não é lugar para confrontos! – continuava o clérigo a reclamar, ainda de roupão.

- Volte a dormir, reverendo. Isso logo acabará. – chegou a voz de Pieter a seus ouvidos, fazendo o senhor de idade virar para trás.

- Capitão Pieter! O que significa essa bagunça em um lugar tão sagrado?! – reclamou o velho andando com passos duros até o capitão – Esta deveria ser uma casa onde há paz de espírito, e não guerras e derramamento de sangue!

- A igreja não é teto neutro onde os inimigos do império podem vir se esconder.

- Yenros não faz acepção de pessoas!

- Deixe o seu deus fora desse assunto. Isso não é uma questão de religião. – o sacerdote congelou onde estava. Atrás de Pieter, entrou o Imperador Meggion.

O Grande Rei se aproximou dos dois sem sequer encará-los. Em vez disso, correu o olhar pela sua armada e o cerco que formava ao redor dos dissidentes. Estes começavam a entregar suas armas de guerra ao passo que muitos outros jaziam mortos no chão.

- Er... Majestade... – recomeçou o pároco, mas visivelmente acuado pela áurea de intimidação que Guorthigern emanava – Por que...?

- Existe mais de um meio de se infiltrar no castelo. – respondeu o Imperador antes que o sacerdote completasse a pergunta – Eu mesmo não tenho pleno conhecimento de todos os caminhos secretos que existem para este fim. Esta catedral estava aqui antes mesmo da primeira parede da fortaleza ser levantada. Alguém deve ter espalhado o boato de que ela possuía uma das conexões. Mas é claro, essa notícia é falsa. Isso só induz a possibilidade de um traidor entre eles. – e se virou para Pieter – Ele ainda deve estar vivo. Descubra quem é e sobre ordens de quem foi iniciado esta invasão.

- Sim senhor. – e se afastou, dando ordens a seus subalternos para reunir todos os prisioneiros daquele combate.

O imperador se virou para sair quando voltou o olhar para o clérigo, intrigado.

- Por que está usando pijamas de coelhos, homem?

- E-eu... hãm...

- Hm. Esqueça. Melhor não responder.


O caminho era estreito e apertado, e as escadarias não pareciam ter fim. Quando elas finalmente terminaram, um espaço amplo encheu a visão do homem de negro. Existia um grande salão acima do quarto do Imperador.

Iluminada apenas pela fraca luz do luar, o barulho agora era de um chuvisco que poderia parar a qualquer momento. Diferentemente de qualquer cômodo organizado e aconchegante, este era completamente entulhado com peças finas de várias épocas e lugares, banhado a ouro e prata. O homem não se incomodou nem um pouco com aqueles objetos valiosos. Sua missão ali tinha alta prioridade.

Quarta janela.

O sujeito camuflado contou as aberturas a partir de sua chegada e seguiu até um grande armário de madeira nobre que se encontrava na parede oposta.

Segunda gaveta.

Abriu a porta com cuidado, como se esperasse por alguma armadilha. Olhou ao redor. Era um simples armário para roupas. Esmeradamente trabalhado, era verdade, mas ainda assim, apenas um armário. Puxou a segunda gaveta e uma caixa metálica iluminou seus olhos. Tocou a caixa delicadamente com a ponta dos dedos, quase num ato de reverência, e trouxe-a para perto de si.

Quando o peso da caixa finalmente pousou em suas mãos, escutou algo que o fez olhar instintivamente para trás, num pulo.

Largou a caixa com rapidez, fazendo um estrondoroso barulho.

- Finalmente. Eu pensei que iria apodrecer aqui em cima de tanto esperar.

A voz vinha da escuridão, mas se aproximava. O som de passos metálicos revelou um guerreiro que logo fora iluminado pelo lampejo de um relâmpago. Estalou os dedos, e os candelabros próximos das janelas se acenderam. O intruso de preto colocou a mão direita furtivamente para trás, enquanto a esquerda subiu para alcançar a espada da bainha presa ás suas costas.

- De onde você veio? – continuou a voz por baixo do elmo - Não me parece ter vindo dos Reinos do Norte. E essa sua espada... Eu nunca vi nada parecido.

O invasor continuou em silêncio.

- Você não é muito de falar, não é? Hmpf... Não importa. Assim que eu o levar à presença do Imperador, você terá que lhe dar algumas respostas, obrigatoriamente. – e retirou a própria arma, se preparando para o iminente duelo.

continua...
Giovana-chanGiovana-chan é uma garota cheia de manias, poucos amigos, e dona de uma mente insana. Fã incondicional de cinema, livros e games, prefere atividades que envolvam sofás bem acolchoados. Morre de vergonha de falar em público e odeia a idéia de ter que falar de si mesma na terceira pessoa.

10 comentários:

  1. Grande Gi-chan, ta muito bom este conto, cheio de intrigas e suspense! Parabéns!

    No aguardo da segunda parte :D

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  2. Realmente, muito bom. Parabens²

    Gostei do jeito como dividiu as partes! Deixou varios ganchos bons.

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  3. Muito legal, instigante e bem escrito! Parabéns!

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  4. Wow, não tinha lido ainda, está incrível *-*

    Que venha a continuação :D

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  5. Nossa, show de bola! Gi-chan chegando com tudo no blog! E já faço uma sugestão: adaptar esse cenário para Old Dragon!

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  6. Nossa!!! Este conto está muito bom, intrigante, bem escrito e cheio de suspense!
    Parabéns!

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  7. Adorei Gio! Apoio a sugestão do priest, adaptar esse cenário para Old Dragon ia ser muito legal!

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  8. Muito bom =D...

    Adaptar para OD ia ser sensacional mesmo.

    Que venha logo a continuação...

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  9. Obrigada galera! ^__^
    O apoio de voces é muito importante pra mim.
    Sexta-feira tem mais, não percam!

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  10. Duelo duelo duelo!
    O Cavaleiro vai matar o ninja!

    hsuahsuaush

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