segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Blogs e Blogueiros: Hayashi no Ie - Thiago Hayashi

Mais uma semana se inicia e o Clérigo e o Ladino agradecem de antemão a todas as visitas e comentários de nossos nobres leitores. Hoje teremos uma visita muito especial na seção Blogs e Blogueiros, Thiago Hayashi, do excelente blog Hayashi no Ie.

Bem, Thiago, é um prazer fazer essa entrevista, obrigado por ter aceitado o convite. Queria saber há quanto tempo você joga RPG e como tudo começou?

Bom, meu começo no RPG foi muito tenso. Foi há dez anos, quando ainda estudava num cursinho pré-vestibular, depois da aula. Comecei como acho que muita gente da minha geração, com Vampiro: A Máscara. Foi uma seção muito ruim, pelo que considero hoje, mas mesmo assim vi que RPG era um negócio com bastante potencial. 


Sempre gostei de histórias, e há um provérbio árabe que diz que "um povo precisa mais de histórias do que precisa de pão. Porque histórias ensinam como viver e porque viver. Um povo pode viver sem pão, mas é impossível que ele viva sem produzir história" (ele não dizia isso tudo originalmente XD). Poder construir uma história (quase) totalmente livre e coletivamente era uma experiência interessantíssima! E até hoje é.


De Vampiro, passei pras outras franquias do WoD, ainda com certa aversão a D&D. A 3ª Edição meio que mudou isso, com vários títulos interessantes (e um leve empurrãozinho do Sr. Tolkien). Hoje, sou defensor fanático da 4ª Edição de D&D, que parece ter sanado pelo menos grande parte dos males da 3ª Edição.

Interessante sua opinião sobre a 4ª Edição, pois muita gente não larga a 3.5 alegando que a 4ª é um fracasso. Quais são os males da 3.5 que você acha que 4ª conseguiu corrigir?

A 3.5 parte de um ideal de equilíbrio entre classes que eu considero bem estranho. De modo geral, combatentes são mais fortes do que os conjuradores nos níveis iniciais, o que tende a ser invertido em níveis maiores. Não digo que esse é um pensamento errôneo, só que não concordo muito com ele.

Já passei várias aventuras sem ver meus conjuradores chegarem aos ditos níveis altos, e quase todo narrador que encontrei tinha que ficar remendando as regras pra evitar que o ataque de oportunidade ficasse chato ou coisas assim. Também não gosto do muito do "save or die". Esses dois aspectos creio terem sido as maiores mudanças positivas em relação à 3.x. Mas acho que o que todo mundo pega no pé da 4ª é por dizer que ele virou um wargame sem interpretação. Acho que grande parte desse povo só leu umas resenhas na internet e saiu comendo corda atrás de uma crítica deveras tendenciosa.

Um dos maiores alicerces do sistema d20 sempre foi "Você interpreta seu personagem. Não o sistema." E desde que passei a conhecer o d20 mais a fundo, foi uma das coisas que mais gostei nele. O LdJ da 4ª tem quase o dobro de páginas dedicadas à interpretação do personagem do que o da 3.5. O Livro do Mestre é algo que vale a pena ser lido para qualquer RPG, não só D&D.

Sim, o sistema está muito mais focado no combate, mas não é por isso que deixaremos de interpretar cenas memoráveis, discursos heróicos, momentos marcantes e reviravoltas narrativas dramáticas em nossas aventuras. Considero o sistema de combate da 4ª muito mais heróico, empolgante e tático que o da 3ª. Isso a torna superior e evoluída? Até diria que sim, já que temos designers profissionais trabalhando exatamente para isso, mas não é uma posição absoluta.

Afinal de contas, todo mundo tem o direito de continuar jogando 3.x se ainda quiser. Mas é bom saber que paradigmas discordantes a ela foram usados na 4ª. É uma decisão bastante democrática da Wizards!

E quais são seu sistema e seu tipo de personagem preferidos?

Sempre gostei de personagens mais intelectuais. Magos em D&D, shugenjas em L5R, e por aí vai. Gosto de ser o cara que planeja, ou que ajuda dos bastidores. Talvez seja por eu ser um pouco assim na vida real. Aliás, por gostar dos conjuradores em D&D, morria de raiva na 3.x com a cacetada de desvantagens que eles sofriam. Ataques de Oportunidade, as magias acabavam justamente quando mais precisava, etc. Nunca vi um arqueiro sem flechas ou um guerreiro que perdesse a espada e não pegasse de volta no resto do combate.

Em L5R, muita gente diz que shugenjas são apelativos, porque as magias são realmente muito poderosas. Elas têm grande razão, mas o sistema de invocação é totalmente diferente de D&D, e invocar uma magia muito grande requer muitas ações se concentrando. Basta apenas uma pra alguém enfiar uma flecha no meio dos olhos do shugenja desprevinido.

Falando em termos de sistema, eu sou muito indeciso XD. Jogo tanto o card e o RPG de L5R desde os tempos da Dinastia Hantei. Sem dúvida, Rokugan sempre vai ter um lugar cativo no meu coração. Por outro lado, adoro Scion, D&D 4th, M&M e 7th Sea. Mais ou menos nessa ordem. Mas isso sempre muda. Às vezes odeio M&M ou Scion, mas sempre acabo voltando.

Como e quando surgiu a idéia do blog?

Hayashi no Ie existe há mais ou menos quatro meses. O blog veio a atender a necessidade que eu tinha de publicar minhas traduções mais facilmente, gerar um ponto de encontro do povo e também de divulgar meu trabalho. Vi que havia muitos blogs de RPG, e então resolvi experimentar. Acabou que se tornou uma mania que não larguei mais. Atualmente, quando escrevo algo, muito provavelmente ele parará lá também (como os Contos de Rokugan). Infelizmente, nem tudo pode parar lá, já que o grupo de quadrinhos daqui é meio exigente com essas coisas. Mas, depois da reunião de HOJE (29/07/2010), isso deve mudar. Sim, essa é a chance de muitas surpresas legais pela frente no HnI.

O que é esse grupo de quadrinhos que você citou? E sobre o que seria essa reunião que você mencionou?

Bom, a Universidade daqui vira e mexe consegue reunir pessoas que se interessem em trabalhar com quadrinhos num grupo mais independente dela. Hoje (29/07/2010) foi a primeira reunião de um desses grupos. O resultado foi até que bastante animador. Provavelmente, trabalharemos com tiras online, num blog mesmo. Muito provavelmente não será o Hayashi no Ie, mas sim outro criado especialmente pra publicar e comentar quadrinhos. Até agora, somos sete pessoas, entre roteiristas e desenhistas. Gostaria de poder adiantar mais, mas além de não ter muita coisa, estragaria a surpresa.

OK, aguardamos as notícias sobre esse grupo de quadrinhos. E de onde vem o nome do blog, hayashi no ie? É japonês ou seria só uma menção ao Internet Explorer (IE)?

Meu primeiro post no blog explicava isso. É um grande trocadilho com meu sobrenome. "Hayashi" (além do meu sobrenome) significa "bosque" em Japonês. "Ie", "casa". Assim, "Hayashi no Ie" vira "A Casa do Bosque", "A Casa do Hayashi", ou "A Casa do Cara que tem sobrenome de Bosque" (ou alguma combinação aleatória dessas interpretações). Queria brincar um pouco com os kanjis que compõem o nome do blog, mas nunca consegui fazê-lo num design legal.

Falando nisso, sei que você tem algumas habilidades com Photoshop e que você é um excelente tradutor. Conheci seu trabalho por meio da tradução do Legend of the five rings. Sempre quis te agradecer por aquele trabalho, mas foi só há pouco tempo que eu descobri seu blog e postei um comentário de agradecimento lá. Ainda assim, aproveito pra agradecer novamente as inúmeras horas que você despendeu naquele e noutros projetos que estão disponíveis para download no seu blog. Qual a motivação para realizar todo este trabalho de forma gratuita?

Na época em que eu ainda empolgava mais facilmente com L5R, acreditava que o RPG não fazia sucesso pela falta de acesso que as pessoas tinham ao idioma Inglês. Como editora nenhuma se interessaria pela franquia, resolvi eu mesmo tentar traduzir os livros básicos. Quase ninguém sabe disso, mas inicialmente a idéia era traduzir os livros do jogador e do mestre da 2ª edição. Depois desanimei, comprei a 3ª edição e só então ressuscitei a idéia de traduzir L5R. Bom, o resto é história. Mas com os outros RPGs, foi quase por hobby mesmo. Sempre gostei de mexer com textos no PC, e isso era quase um exercício que me divertia bastante. Pegar um livro, e como ler (apenas) na frente do PC era chato, transcrevê-lo me parecia um ótimo jeito de treinar minha digitação e garantir que eu o leria por completo.

No início eu traduzia até meio "pra sacanear" as editoras do Brasil. Hoje, creio que tenha uma visão mais consciente. Tanto que muita gente reclamou, mas assim que a Devir lançou o livro dos draconatos, eu tirei meu download do ar. Não sei se mais gente mantém o arquivo online, mas creio que fazer isso seja a mesma coisa que os fan-subers de anime fazem. Enquanto ninguém publica no Brasil, eles são heróis que trabalham duro pra conseguirmos entender alguma coisa do anime, mas grande maioria deles toma o cuidado de não publicar nada mais assim que o produto chega no Brasil.

Além do mais, quanto mais se lê de RPG, mais se gosta do assunto. É uma das poucas áreas que conheço capaz desse efeito. E com mais pessoas lendo, não vamos deixar a fogueira apagar por aqui (pelo menos assim espero).

Poderia explicar melhor essa ideia de traduzir para sacanear as editoras?

Como eu disse, era uma idéia bem idiota que eu tinha. Era meio que um manifesto revoltado: "Devir, sua #$(*! Você não traduz os livros realmente bons de RPG! Então vou traduzir seus títulos antes de você e levá-la à falência!". Bom, hoje não penso mais assim. Em grande parte porque a Devir é um mal necessário aqui no Brasil. E aliás, ela tem mandado muito bem com D&D 4ª. É até estranho isso. XD

E como está indo a sua tradução de 7th Sea?

7th Sea (ou 7º Mar) está indo a passos lentos. Mas está indo. O projeto às vezes desanima pelo tamanho do livro, mas quando ele enjoa, pego outra coisa para trabalhar. Sobre esse negócio de 7th Sea/7º Mar, eu ainda acho estranho. Não imagino ninguém falando empolgado: "E aí? Vamos jogar SÉTIMO MAR?" mas "7th Sea" é bem mais sonoro. O mesmo acontece com A Lenda dos Cinco Anéis. Todo mundo fala Five Rings. Mesmo com o livro traduzido na mão. Tem horas que nosso idioma definitivamente não colabora. XD

Concordo com você... tem coisas que seria melhor não traduzir. Dungeons and Dragons, por exemplo! Acho que isso é tudo! Gostei muito da entrevista. Teria algumas palavras finais para os leitores do blog?

Bom, a todos do blog, meu muito obrigado a vocês e ao Clérigo por me permitir este espaço. Espero que tenham gostado, e que a Hayashi no Ie continue sempre tendo o apoio de todos vocês! E tradutores "heróicos" do Brasil, uni-vos! Não temos nada a perder e um país inteiro a conquistar!
o ClérigoSo long and thanks for all the fish!

13 comentários:

  1. Putz, Clérigo! Você é louco por dar a esse tal de Hayashi o direito de expressão no teu blog! O cara só fala borracha! XD

    Meu muito obrigado, e meus parabéns pela genial idéia de abrir aqui esse espaço para entrevistas. Espero não ter sido muito chato e, assim como a Astreya, gostei muito de ser entrevistado.

    Muito sucesso pra ti e pro teu blog!

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  2. Muito legal a entrevista. Não conhecia o blog ainda e gostei muito. Parabéns pelo excelente trabalho de ambos: Hayashi e Clérigo.

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  3. Cacilda, eu tinha um monte de material aqui e nem sabia que eram frutos do trabalho árduo do Hayashi.

    Só conheci o site dele através da tradução do Freedom City. =D

    Quanto a entrevista, show de bola.

    Eu vivo reclamando que faltam pessoas como o Hayashi, o Gilvan, o Movimento Anarquista, entre outros poucos que se interessam a traduzir materiais inéditos que provavelmente (e quase certamente) nunca serão lançados aqui no Brasil.

    Parabéns pelo trabalho Hayashi, e parabéns pela entrevista Clérigo.

    Grande abraço.

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  4. E outra coisa...

    Não desista do 7th Sea homem!

    Esse certamente é um material que nunca vai pintar por aqui no Brasil mas que com certeza, sua tradução fará muitos Rpgistas brasileiros felizes!

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  5. Parabéns pela entrevista, amigos Hayashi e clérigo! Realmente, teu trabalho de traduzir os livros não lançados aqui é muito admirável e só merece elogios, nobre parceiro. Gostei muito de saber a origem do nome do blog!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Eu é q fico imensamente grato em saber que todo esse trabalho duro não é só murro em ponta de faca. Elogios de pessoas tão gabaritadas como O Trapaceiro, Clérigo, Frodo e Astreya e todo mundo valem muito!

    E que a Hayashi no Ie cresça cada vez mais com a ajuda de vocês!

    Sobre 7th Sea, graças a uma pauleira estranha com o Acrobat Reader, a tradução vai parar um pouco. Vai ser até bom pq meus dedos tb precisam descansar. Mas assim que possível, ela volta com todo pano ao vento!

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  8. Eu também fico feliz por vocês terem a oportunidade de conhecer o trabalho do Hayashi. Como eu falei na entrevista, conheci o trabalho dele com a tradução do L5R, e quase pirei na batatinha quando encontrei o blog dele e pude conhecer outros trabalhos dele.

    É um cara que merece ser conhecido e também merece a gratidão de todos nós. Viva o Hayashi e o Hayashi no Ie, e que as traduções continuem, a despeito dos problemas com o Acrobat, rsrsrs.

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  9. Esse ai tem amor pelo que faz, nossa tanta tradução, deve cansa muito. Mas muito boa a entrevista, continue assim Clérigo, e muito bom trabalho Hayashi.

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  10. Eu esqueci de uma coisa importantíssima nessa entrevista!

    O Hayashi, além de tradutor, é um grande escritor. Ele tem contos fantásticos no blog dele, alguns sobre Rokugan (o cenário de L5R), outros sobre Eberron, e muitos outros cenários incríveis. Vale a pena conferir.

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  11. Fico lisongeado, Clérigo, mas nunca escrevi sobre Eberron. O cenário me parece bem legal até, mas não conheço praticamente nada a respeito, infelizmente.

    Ainda assim, valeu o elogio. E quem quiser, fique à vontade para visitar a HnI.

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  12. Desculpe aí... eu acho que eu li alguma coisa sobre Eberron no seu blog e pensei que era um conto. Devia ter verificado lá antes de postar o comentário!

    Mas independente do cenário, os contos são muito bons. Gostei especialmente do conto sobre Ragnarok que também está no Templo das Artes deste mês, e dos contos sobre Rokugan. Quem não conhece, vale a pena passar lá e conferir.

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