quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sermão: Mesa Online = RPG + Literatura

Apesar de ser uma negação em termos matemáticos, acho que a expressão no título do post deixa claro do que vou tratar. Não? Então clique aí e fique sabendo!
RPG e Teatro
Desde que comecei a jogar RPG, lá por volta de 1995 ou 1996, sempre associei a prática do hobbie à interpretação teatral. Quando alguns amigos me perguntavam o que era o tal de "arrêpêgê", eu prontamente respondia que era como fazer um teatro de improviso, sem script, usando a imaginação.

Essa pelo menos era a visão que meu grupo de jogo tinha. Para nós o RPG não se resumia só a combates e personagens combados. A interpretação teatral era o que nos movia. A oportunidade de dar vida a uma nova personalidade era fascinante, muito mais do que os números das fichas.

Só para se ter uma idéia, levei dois anos jogando AD&D com meu clérigo Slobodan para alcançar o 5º nível, e mais um ano jogando com um ladrão chamado Zorak para chegar ao 3º nível. Em Lobisomem jogamos por cerca de um ano e meio, e quando meu personagem finalmente ia ser avançado de posto, eu declarei que não estava preparado e a cerimônia foi cancelada. Perdi renome, honra e o escambal, mas fiz o que meu personagem teria feito. Mas isso não era problema: o importante é que os personagens tinham uma história, ou melhor estavam construindo uma história.

RPG numa mesa online... será que dá pra interpretar?
Antes da primeira sessão da mesa online aqui do blog, estávamos todos imaginando que perderíamos algo em termos de interpretação, que não seria possível passar aquela sensação de vida aos personagens, aquela veia teatral ao jogo.

O primeiro dia de jogo online foi o mais estranho. Logamos lá no RRPG e ficamos batendo um papo antes de começar a sessão. Eu particularmente estava imaginando como ia dar o pontapé inicial, se o pessoal ia entrar no clima, se a história ia render... Apesar dos temores, bastou começar a descrever e cena inicial para que a minha atenção não se desviasse mais da tela do computador, e pude sentir que o mesmo acontecia com os jogadores.

Admirei muito a proatividade do grupo, pois eles constantemente interagiram uns com os outros e com os pdms, descrevendo o que seus personagens realizavam e mantendo diálogos bem coerentes. Não estávamos interpretando de forma teatral, mas logo percebi que estávamos aproximando o nosso hobbie de uma outra modalidade de arte: a Literatura.

Interpretação falada... talvez não; mas escrita, sim
É óbvio que, ao digitarmos as ações e falas de nossos personagens, somos privados daquele toque teatral que teríamos na mesa de verdade. Mas na mesa online novas dimensões se abrem pois, assim como em um livro, as descrições e narrações acompanham e enriquecem os diálogos entre as personagens. Separei aqui algumas falas dos jogadores, para ilustrar como suas descrições ajudaram a criar uma cena. Sei que os exemplos estão fora de contexto, mas tudo bem. Só queria demonstrar como nos ajudam a criar imagens bem vívidas da situação.

[Cerdic Bradford] *Cerdic guarda sua palavra diante do assunto impróspero que surgia, e termina sua refeição com relativa rapidez*

Não sei, por exemplo, se o fato de Cerdic calar-se diante de uma discussão entre os companheiros teria sido tão marcante numa mesa de verdade. Talvez o jogador aproveitasse para se espreguiçar ou fazer aquelas montanhas com dados que todo mundo faz durante o jogo, o que não nos possibilitaria imaginá-lo "guardar sua palavra" e comer rapidamente.

[Leonam] (aguardo Cerdic passar pela porta dou uma ultima observada para ve se realmente não deixamos de notar nada e o sigo depois)


Essa cena talvez até seja comum em uma mesa normal. Sempre tem alguém que anuncia que vai dar uma última olhada em um local, antes de seguir adiante. Mas a palavra escrita tem um efeito muito mais visual do que a falada (pelo menos em minha opinião).


[Akkar] (Então repito o outro trecho e dou o diário a Leonam e rio sarcasticamente...)

Fico imaginando se o jogador que interpretava Akkar teria conseguido dar uma risada verdadeiramente sarcástica, ao interpretar seu hobbit, ainda mais representando a entrega do diário ao outro companheiro. Eu, pelo menos, consegui imaginar claramente o sarcasmo do pequenino através da descrição de sua ação.

Conclusão
O sentimento que tenho é de que o RPG de mesa é sim muito teatral, enquanto que o RPG virtual pende muito para o estilo literário. Eu diria que a grande diferença estaria no tempo de jogo, visto que o RPG de mesa teria um ritmo bem mais rápido (assim como o teatro, ou o cinema), enquanto que o RPG virtual seria um pouco mais lento e detalhado (como a literatura).

Haveria algum problema nisso? Acredito que não, visto que são duas modalidades diferentes de arte que podem ser incorporadas ao nosso hobbie com o mesmo grau de sucesso. E para finalizar, descobri com essa experiência que mestro muito melhor online do que ao vivo! Digo isso por que meu raciocínio não é tão rápido, e na mesa virtual tenho mais tempo para pensar e avaliar o próximo passo. Me senti como se estivesse lendo (ou melhor, escrevendo) um conto, uma história, com auxílio de bons jogadores.
o ClérigoSo long and thanks for all the fish!

21 comentários:

  1. Caro amigo Clérigo!

    Nunca joguei uma mesa de RPG Online e o faço pelo mesmo motivo que levou temores a você: "perder a arte teatral".

    Nunca tinha pensando por esse ponto de vista. Realmente, aquele jogador que quer ficar calado só irá ficar calando, fazendo monte de dados ou então indo buscar uma garrafa de coca ou o pote de pipoca.

    Acho que vou me aventurar nesse mundo online.

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  2. Aqui é o AlyssonRPG, o programador do RRPG... Nossa. Babei neste artigo.. sério mesmo!

    Quando eu jogo online, eu percebo o mesmo que você falou, mas eu nunca me toquei sobre Teatro e Literatura, e que mesas virtuais tendem mais para o lado Literatura.. E é verdade!

    Já joguei com mestres no RRPG cuja fala era totalmente voltado à literatura, com aquele texto bonito de se falar e de se ler. Já em Mesa Real, os jogadores falam com sotaque e gírias dos tempos modernos, por exemplo.

    Na moral.. Babei no artigo! Tá de parabens..

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  3. Obrigado Velhos Amigos e Alysson pelos comentários!

    Jogar através do RRPG tem sido uma grata experiência. Estava muito difícil para conciliar meus horários com o grupo de jogo que eu estava formando aqui em SP. Mas a mesa online possibilitou que eu me reunisse com três jogadores de lugares completamente diferentes (MG, RS e GO). Recomendo a todos.

    E fiquei muito feliz por ter recebido o comentário do programador do RRPG. O programa tem se mostrado muito bom. Parabéns!

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  4. =) Qualquer coisa, pode entrar em contato.. Qualquer idéia, dica, opiniao ou critica sobre o RRPG, não hesite em me mandar 1 email =)

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  5. alyssonrpg@gmail.com
    RRPG: alyssonrpg
    msn: alysson_rpg_@hotmail.com

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  6. Muito bom o post.

    Talvez seja por não conheco o Felipe mas ele é todo "certinho" e não consigo imaginar um cavaleiro empilhando dados.

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  7. apos a experiencia q tive em mestrar via forum, achei q é muito bacana. é algo differente, e nao substitui o rpg de mesa, mas achei muito valido. conseguiamos descrever coisas q naturalmente nao tinha como, ou ate mesmo, ficavamos acanhados de faze-lo.

    pra mim, vale a pena, nas horas de "fome de rpg". e claro, quem nao tem como jogar presencialmente, esse é uma otima opção!

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  8. Bem, para fechar os comentarios do grupo so faltava o mago Leonam, o meio-elfo que não gosta de elfos hehehehehe.

    Depois que começamos a jogar com o clerigo, tive essa mesma visão dele, e até pensei em conversar com um amigo meu e ver a disponibilidade do tempo dele para poder mandar para alguns textos do clerigo para quem sabe fazer um fanzine.

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  9. Hahaha, todo certinho.
    Pura interpretação, todos que me conheçem dizem exatamente o contrário disso.
    Muito bom o artigo, metre Clérigo.
    Tenho que assumir (Com pesar) que essa idéia de descrever bem ao certo e com fortes toques literários veio de RPGs on-line, realizados no chat terra. Na época eu entrava em Diversão e Cultura-Filmes-Senhor dos Anéis, onde fazia personagens e interpretava com os demais ocupantes da janela.
    Lamentavelmente, não havia nenhum sistema de rolagem de dados (e nem mestre), portanto, ia tudo da interpretação mesmo.
    De vez em quando se encontrava um over power, que se denominava filho de Deus e queria mandar em todo mundo.
    Por isso, agradeço ao nosso amigo Alysson, por propiciar o RRPG pra galera.

    Abraços pra todos!

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  10. Peço desculpas ao Felipe, mas esqueci de mencionar o fato de que foi ele quem sugeriu que colocássemos entre asteriscos (ou parênteses) as descrições e narrações que não fossem a fala do personagem.

    Pode parecer uma coisa simples, mas faz uma grande diferença na hora do jogo, pois assim vc já bate o olho e sabe se o personagem está falando algo ou se o jogador está narrando/descrevendo um detalhe, ou mesmo perguntando algo em off ao mestre.

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  11. Interpretação é 95% do RPG os 5% é pura climatização!!! (E se tiver polenta cósmica o jogo fica perfeito) KOPAkPAKopKApKA

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  12. Em que mesa eu posso jogar ???

    huahuahuahua ai povo eu sou antigo no RRPG só brincando mais o RRPG é bom e vai ficar melhor

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  13. Sou narrador tambem se quiser me conhecer só me add ai a gente marca jogo no RRPG :felipezarck
    valeu
    Alysson to esperando vc no cs 1.6 quero te massacrar xD

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  14. Hahaha. Vai me massacrar antes ou depois de eu te pegar na faquinha? hahaha

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  15. Já adicionei no RRPG! Nós temos jogado às sextas-feiras por volta das 16:00h. Se alguém mais quiser participar é só entrar em contato. Não temos muitas vagas, mas se me convencer eu dou um jeito de colocar na história, rsrsrsrs.

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  16. O Clérigo... Depois de ler seu artigo, me bateu uma inspiração pro RRPG Firecast:

    O LitteraeBox: http://blog.rrpg.com.br/?p=501

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  17. Valeu Alys por linka este post.

    Clerigo, depois de ler a materia, vc me tirou uma das maiores dificuldades que estava encontrando no rpg virtual. O Tempo!!!
    Jogar virtualmente esta para o livro, como a mesa para o teatro.

    É um parto realizar encontros no virtual, ja explorei inumeras ideias para agilizar um encontro bacana e rapido, para que a sessão num perca o clima, mas num da... reduzo a 1 ou 2 monstros e tenho sorte de meu grupo interagi muito entre eles.

    Porem, mais do que me preocupar com encontros, isso me abriu a mente em induzir meus jogadores a deixarem de maneira mais explicita as suas atitudes e de forma mais detalhadas, e depois desta materia, espero em breve postar meus logs de aventuras sem nenhuma edição de lançe de dado =]

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  18. Valeu Alysson pelo link! Já li e comentei seu post.

    E é bom saber que meu post serviu de alguma coisa para alguém. Só não entendi qual foi a dificuldade que consegui tirar com ele... você falou que tirou uma dificuldade com relação ao tempo, mas o que exatamente?

    Realmente é difícil ter um encontro bacana na mesa virtual, mas estou preparando um post só sobre isso. Aguardem!

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  19. Tempo? ehhe. Foi tempo não heheh. Tipo, ao ler o seu artigo me bateu 1 raio na cabeça né... E comecei a pensar se teria como alterar o RRPG para dar mais ênfase à historia ^^

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  20. Ah sim, agora que vi... foi o Aquarits que mencionou o tempo, não você Alysson, foi mal!

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