Balthazar sabia pouco sobre suas origens. O abade havia lhe contado que o encontrara ao pé de um cinamomo, ainda recém nascido, provavelmente abandonado pela mãe. Era uma manhã fria de inverno, muitos anos atrás, quando o abade era apenas um monge viajando para levar suprimentos da abadia para o priorado de sua ordem. O choro da criança atraiu o monge, que a encontrou envolta em farrapos, certamente faminta e quase congelada.
Sem saber o que fazer, tomou-a em seus braços e seguiu seu caminho até o priorado, onde passou a cuidar do bebê, sob os auspícios do prior. E foi assim que Balthazar cresceu: em meio aos monges e seus rituais sacros, tendo como pai o monge Marcus, seu atual abade. Eventualmente o bebê cresceu e passou a fazer parte da rotina das orações e celebrações monásticas, por fim tomando sobre si o ofício de monge.
Sua vida era dividida entre a adoração, a contemplação e o estudo, além dos afazeres práticos que era necessário desempenhar, como a colheita da horta, a fazedura do pão e a criação dos animais. Viver no mosteiro era uma dádiva sem precedentes, pois tudo de que precisava estava a seu alcance.
Tudo, exceto o conhecimento sobre sua origem.
Várias noites ele passou em claro tentando entender o que teria acontecido para que seus pais - ou teria sido só sua mãe? - o tivessem abandonado numa gélida manhã invernal. Às vezes fantasiava que talvez tivesse caído de uma carroça, e seus pais até hoje o procurariam. Às vezes achava que era fruto de um relacionamento ilegal, e por isso teria sido deixado para morrer. Tantas incertezas apenas aumentavam seu desejo de conhecer aqueles que o haviam trazido ao mundo.
- Abade Marcus.
- Sim, meu filho.
- Eu tenho pensado sobre minha vida, a providência que me salvou ainda recém-nascido. Eu... eu gostaria... eu queria sua permissão, meu pai, para...
- Para...?
- Para deixar o mosteiro.
Marcus foi pego de surpresa pelo pedido daquele que considerava seu filho. Algo teria faltado em todos estes anos, pelo que o menino (agora já um homem, mas aos olhos de Marcus, ainda um menino) ansiava revolver assuntos perdidos num passado distante? O abade endireitou-se na cadeira em que estava sentado, enquanto lia.
- Não entendo teu pedido, Balthazar. Estás tão bem aqui junto de nós, teus irmãos. O que ganharias ao tentar desenterrar fatos escondidos de teu passado?
- Eu não sei, pai (o tratamento era próprio tanto pela relação paterna entre os dois, quanto pela hierarquia da ordem), mas sinto um anseio que não posso explicar. Não é apenas um querer, mas parece-me mais um precisar saber quem eu sou.
- Tu és aquilo no que te tornastes, filho: um monge, separado do mundo para dedic...
- Eu sei, pai, eu bem sei destas coisas. E não pretendo deixar a ordem... apenas deixar o mosteiro por enquanto.
- O que queres dizer com isso?
- Peço tua permissão, pai, para tornar-me um monge viajante.
So long and thanks for all the fish! |
re-comentando: a historia promete!
ResponderExcluiro tamnho do texto esta otimo,mas espero q nao demore a segunda parte!
Eu tbm espero uma continuação =D
ResponderExcluirEntão, a continuação virá na semana que vem... aguardem, hehehehe.
ResponderExcluirO monge com o pé na estrada :D
ResponderExcluirVamos ver aonde essa estrada leva! \o/
Muito interessante e convidativo a introspeccao. Varios poderiam ser o motivo aos questionamentos de Balthazar, principalmente a necessidade de conhecer nossas origens no mais amplo sentido (atribuimos ao Criador - Deus); E se formos meros resultados do "acaso"? Ou ainda, viajantes do "cosmos" com poder de nos materializarmos e ao nos desintegrar do corpo fisico recuperarmos a consciencia de nossa condicao essencial, eterna/espiritual?... A busca de Balthazar pela sua origem, somente ira atrasar sua caminhada (viagem cosmica) que, creio, tenhamos deliberadamene escolhido trilhar...Somos eternos viajentes do "cosmos"???...
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