quarta-feira, 2 de março de 2011

Lição: PDMs e Comunidades


Olá, classe! Continuando com nossa sequência sobre como mestrar sem tempo, hoje aprofundaremos o assunto PDMs e comunidades. Olhos à lousa e boa aula!

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Ao longo das últimas aulas, muitas vezes comentei sobre os PDMs: a importância de nomeá-los, o bloco de estatísticas minimalista, como eles auxiliam a dar veracidade ao mundo e como eles servem de ganchos para aventuras. Hoje, vamos falar mais sobre eles e sobre os locais onde eles habitam, ou seja, as comunidades.

Quando falo em comunidade, me refiro a qualquer ajuntamento de seres inteligentes vivendo em sociedade. Assim, estou falando desde ao minúsculo acampamento bárbaro com trinta habitantes até a metrópole mais populosa do mundo.

Nos primórdios do RPG, as aventuras eram praticamente roladas em dungeons: as cidades e seus arredores (alguém lembra do termo "wilderness"?) eram apenas locais de descanso e compra de recursos. Com o tempo, os arredores das masmorras ganharam importância, obviamente, e hoje temos centenas (para não dizer milhares) de suplementos descrevendo cenários para usos em nossas campanhas. Então, sendo Mestre, temos duas opções ao pensar em nisso: criar ou usar algum cenário existente. Como estamos falando sobre mestrar sem tempo, recomendo a utilização de um já existente.


Um cenário clássico! Mas, que beholder mais fresco...

Utilizando um cenário existente
Antes de mais nada, defina qual será o cenário e, principalmente, quais livros você usará. Digamos que você escolheu Forgotten Realms. O número de livros que Forgotten possui é simplesmente inacreditável. Eu mesmo, após a liberação de alguns pdfs da Wizards, tentei ler tudo o que conseguia, mas desisti. Hoje, utilizo Forgotten, mas uso apenas três livros: o cenário básico (só para criar PCs e PDMs), as Fronteiras Prateadas (como cenário em si) e o Crenças e Panteões (para dar uma cor nos deuses e nos clérigos). O resto, deixo para trás.

Escolhido o cenário e os livros, é hora de definir o local em que suas aventuras irão acontecer. Não caia no erro de criar uma campanha estilo "A volta ao mundo em 80 dias". Além de inverossímil, você precisará ler ao menos o básico de cada local, o que exigirá tempo, algo que não temos. Fixe-se em uma região, um reino qualquer, e aprofunde-se nele. Tenho certeza de que as campanhas serão mais empolgantes, verossímeis e fáceis de administrar.

Em meu grupo, por exemplo, escolhemos rolar as campanhas nas Fronteiras Prateadas do Forgotten Realms. A escolha foi simples: as Fronteiras possuem um livro próprio, descrevendo com minúcias toda a região. Na verdade, quando começamos a jogar a 3ª edição, só compramos esse livro (além dos básicos, claro), usando-o como um cenário completo. Até hoje, só usamos o cenário de campanha para criarmos os Personagens, já que os locais estão todos lá, nas Fronteiras.

Fazendo um jabázinho básico, "O Reino de Bruntoll" também serve perfeitamente. Nele, descrevemos apenas um reino, com suas cidades, PdMs e organizações. Um capítulo a parte fala sobre os deuses e um resumo dos demais reinos que compõem auxilia o Mestre que queira inteirar-se mais do cenário.

Meu filhote: Bruntoll nasceu da necessidade de um cenário simples e rápido.

Por fim, outro cenário muito bacana é o Karameikos. O livro lançado pela Abril Jovem ainda pode ser encontrado lacrado (eu mesmo comprei um o ano passado e fiquei impressionado com o estado zero bala do material) e descreve apenas um reino do mundo de Mystara.

Resumindo, tenha foco. Escolher um reino ou região exige menos leitura, envolve mais os Jogadores e permite que você conheça tudo em detalhes, quase nem precisando dos livros a não ser para rápidas olhadelas.

Depois de escolher o cenário e a região, é hora de pensar na Campanha. Como disse no post anterior, preparar toda uma sequência de aventuras é trabalhoso e, às vezes, inútil, visto que os Jogadores podem escolher um rumo que você não havia pensado. Assim, dê uma lida nos principais vilões e onde estão suas bases e seus locais de ação. Faça com que eles pisem nos calcanhares dos Personagens e vice-versa. Depois, os próprios Jogadores escolherão em quem devem dar umas piabas primeiro.

Para a primeira aventura, escolha um vilarejo ou uma cidade pequena, principalmente se os Jogadores não conhecem o cenário. Isso permite que você perca um tempinho nos PdMs, de quem falaremos mais abaixo, tornando a experiência mais envolvente e atrativa aos Jogadores. Se quiser, crie uma vila, assim você consegue algo mais próximo do que seu grupo deseja. Lembre-se do post "O Dono do Mundo": o cenário é seu, crie, exclua e modifique o que quiser.

E depois? Bom, seguindo o método das "campanhas despreparadas", seus Jogadores deveriam poder ir para qualquer lugar que queiram. Combine com eles para que não deixem a região escolhida, para manter a campanha mais concisa. A partir daí, pense nas cidades mais próximas e foque nelas. Vamos a um exemplo:

Atualmente, o grupo dos meus Jogadores está em Everlund, uma cidade grande das Fronteiras Prateadas. Eu sei que o desejo deles é ir até Sundabar, seguindo o rio Rauvin. Assim, eu sei qual os locais por onde eles passarão pelas próximas aventuras: as vilas de Chefe Lhuven, Topo da Colina, Jalanthar e Travessia do Rauvin, além da trilha em meio às Montanhas Inferiores.

Sabendo quais são as cidades e locais por onde os Personagens passarão, basta ler as informações sobre esses pontos no cenário e os ganchos para aventuras saltarão aos olhos. Eu não vou revelar aqui o que aguarda meus Jogadores porque os malditos acompanham o blog e descobririam tudo antes da hora (peguei vocês lendo isso, não, vermes?!), mas acho que todos compreenderam o que eu quis dizer.

Criando e Administrando Comunidades


Não importa se a descrição da localidade seja uma linha ou dez páginas, dificilmente você terá a comunidade pronta para o jogo. Claro, você talvez tenha um mapa, alguns pontos interessantes, a descrição (ou mesmo estatísticas) dos PdMs, mas, como isso afeta sua campanha é algo que cabe a você construir. Eu recomendo a criação de "fichas de localidade".

A primeira vista, criar uma "ficha de localidade" pode parecer uma perda de tempo desnecessária, mas não é: mantendo ela, você sequer precisará do livro para lembrar o que há de importante por ali. Você não precisa criar fichas para todas os locais, apenas por aqueles em que seus Jogadores necessitem passar. Assim, no meu exemplo, criei uma "ficha de localidade" para cada uma das vilas que existem no caminho de Everlund à Sundabar, incluíndo as duas cidades maiores.

Não é fácil administrar um reino, o que se dirá de um mundo!

E como é uma "ficha de localidade"? Nada mais do que um arquivo em que você escreve tudo o que for importante naquele local para a sua campanha. Eu costumo manter um fichário de campanha, separando os PdMs, aventuras, fichas de Personagem e as localidades. Portanto, escrevo o que considero importante para a campanha em folhas de fichário e as arquivo, tendo-as sempre a mão se preciso for.

Mas, o que é realmente importante para a campanha? Em primeiro lugar, esqueça os fatores históricos, as linhagens que deram origem às famílias da região e o resumo de tudo o que aconteceu ali até o presente momento, exceto aqueles que possam influenciar sua campanha. Para suas aventuras, talvez seja irrelevante saber quem foram os fundadores do local, então, para que anotar isso? Concentre-se nos locais e PdMs, o resto não importa. Costumo combinar com meus Jogadores que criarei sempre três locais de cada tipo (tavernas, templos, ferreiros, ou o que mais for importante), deixando o restante de lado. Assim, mesmo que a cidade seja uma metrópole, é fácil manter a interação entre PdMs e PdJs.

Vou dar um exemplo, falando sobre Chefe Lhuven. Nos livros que escolhi, há apenas uma frase sobre o local: "uma próspera vila de pescadores e barqueiros". Então, tive mais trabalho, pois foi necessário criar os PdMs e os locais. Everlund, por outro lado, possui uma lista com o nome e as estatísticas básicas dos PdMs e a descrição de alguns lugares. Mesmo não tendo que criá-los, precisei descrevê-los mais detalhadamente e também criei uma ficha para a cidade. Aqui está um atalho para a ficha que fiz de Chefe Lhuven.

Depois de criar a ficha da localidade (o que, certamente, lhe dará um pouco mais de trabalho), mantê-la sempre atualizada é bem simples. Anote o que foi modificado ao longo da campanha: PdMs que morreram ou mudaram-se, novos estabelecimentos, atitudes dos PdMs após a última passagem dos Personagens, etc. Com isso, as localidades ganham vida. Seus Jogadores sentirão que o mundo não gira em torno deles, mas muda constantemente. E você terá bem menos trabalho depois, com tudo pronto para quando os Personagens voltarem a determinado local.

PdMs e Fichas

Os PdMs são fundamentais para que as aventuras e campanhas possam ser elaboradas mais rapidamente. Mantendo o registro das localidades e a interação dos PdMs nelas, você sempre terá ganchos para aventuras instantâneas. Mas, convenhamos, bolar os PdMs dá trabalho. Ou melhor, dava.

Esqueça aquela história de criar as fichas completas dos PdMs, como os livros mais modernos sugerem. Diga-me, quantas vezes você testou alguma Perícia de algum PdM? Eu, sinceramente, nunca fiz isso. Então, vamos focar no essencial: tendência, raça, sexo, classe e nível. O resto não será necessário. Quem leu o Forgotten Realms da Abril Jovem lembra que nenhum PdM tinha mais informações do que isso.

Então, a clériga Finduilas, uma possível aliada dos Personagens em Chefe Lhuven, não precisa ter uma ficha. O que precisamos saber é que ela é Caótica e Boa (pois isso auxilia no modo como ela verá os PdJs), humana, do sexo feminino (para descrevê-la) e que é uma clériga de nível 6 (apenas para sabermos mais ou menos qual o "grau de poder" dela). Pronto. E isso pode ser simplificado em abreviações, como "Finduilas (CB h f C6)". Simples.

Agora você sabe porque os PdMs são sempre mais fortes que os PdJs...

Em minha opinião, há apenas uma excessão: os vilões. Não estou falando daquele bandido humano de beira de estrada. Desse, basta saber que possui CA 12, 8 PVs e ataca com uma espada curta com bônus +1, causando 1d6 de dano se acertar, ou, nas minhas abreviaturas "bandido CA:12, 8 pvs, espada curta +1 (1d6)". Estou falando do grande vilão, o "big boss" da aventura ou mesmo da campanha. Para ele, eu gasto um tempo e crio uma ficha. Evidentemente, não uma ficha como de Personagens: não perco tempo calculando Perícias, por exemplo, já que dificilmente terei que usá-las. Mas sorteio as Habilidades, escolho os Talentos e Magias e equipo com o essencial para a batalha final. Claro, você pode fazer como fiz com o ladrãozinho aí em cima, mas, geralmente, a luta contra esse vilão será mais difícil e não seria muito justo com os Jogadores (ou, às vezes, com o vilão) simplesmente "chutar" valores na hora. Pense: quantos desses vilões seus Jogadores enfrentarão ao longo da campanha? Ao meu ver, pouquíssimos. Na campanha que estou mestrando há oito meses, criei apenas a ficha de um PdM, que, por sinal, nem usei: os Jogadores conseguiram resolver tudo sem nem ao menos tocar o maldito.
Como interpretar PdMs
Se você está acompanhando os últimos posts, já percebeu que escrever diálogos dos PdMs é furada. Primeiro porque é impossível prever o quê (ou mesmo sobre o quê) os Jogadores falarão com eles. Segundo porque talvez o grupo nem encontre determinado PdM. Mas, como lidar com isso? Meus caros, esse é o grande papel do Mestre, em minha opinião: dar vida aos coadjuvantes.

Dê uma olhada na ficha de Chefe Lhuven, a comunidade que usei como exemplo. Você verá que descrevi um pouco sobre cada um dos PdMs principais, portanto, sabemos mais ou menos como eles portariam-se diante de determinado assunto ou ação. Do mesmo modo, a tendência pode ser outro auxílio, se o seu jogo possui algo assim, claro. Digamos, um paladino (que deve ser Leal e Bom) dificilmente negaria auxílio aos Personagens, mas certamente não auxiliaria um grupo maligno. Um necromante Caótico e Mau dificilmente receberia os PdJs de braços abertos. É simples: imagine como determinado PdM reagiria diante das atitudes e comportamentos dos Personagens e interprete. Não tem erro!

Outro mega-post para entupir o blog do Clérigo e a mente de nossos leitores... hehehe! Então, vamos às dúvidas e debates nos comentários, ok? Mestres, não esqueçam de avisar seus Jogadores sobre as próximas duas lições: elas serão especialmente voltadas a eles. Um abraço e até sábado, com a segunda parte da lição especial sobre RPG e educação! Saludos!

Prof. AlessandroAlessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade.

12 comentários:

  1. Concordo com o professor: essa coisa de montar uma ficha toda certinha para cada pdm é perda de tempo. Eu geralmente não completo nem a dos PJs direito, rsrsrs.

    Achei muito legal a ficha de vilarejo, uma ideia muito simples, mas eficiente (inclusive já baixei a que você colocou como modelo).

    E para quem não conhece, o cenário de Bruntoll é excelente e, como foi dito, tem as informações necessárias e relevantes para uma campanha rápida e simples, sem ser simplista.

    Falando nisso, quando vai sair o novo Bruntoll, fessor?

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  2. muuito bom , eu pretendo começar a jogar gurps com algums colégas na escola semana que vem , e vou usar um cenario improvisado por enquanto .

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  3. ae o Bruntoll vai ser pago ou vai rolar de graça ?

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  4. Num primeiro momento vai ser em formato pdf apenas, de graça, lá no site do Old Dragon. Mas bom mesmo seria uma versão box, à venda nas melhores livrarias. Quem sabe no futuro.

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  5. acho muito melhor joagr num "mini cenario", no sentido de fazer algo como uma regiao apenas, sem se preocupar com o mundo todo. claro, isso depende do tempo que cada um tem para dedicar ao RPG

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  6. O livro de WoW, pasmem, tem um capítulo muito maneiro sobre a criação e administração "estatística" (no sentido de informações de combate mesmo) de localidades ou até mesmo países inteiros muito bom.

    Obviamente, não dá pra falar de cenários sem citar o melhor livro desse tipo q já li: Freedom City, de M&M. Apesar de tratar basicamente do freedomverso, o livro é bem completo, a cidade é excelentemente mapeada, plots bem maneiros e vem até com um apêndice detalhando "espaços para serem preenchidos ou alterados no cenário pelo Mestre". Obra prima da Green Ronin.

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  7. Ao ler o comment do Hayashi me lembrei de Cyberpunk 2020, que tinha uma cidade muito legal, com mapa e tudo, para servir de ambientação para as aventuras. Só não lembro o nome do lugar :s

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  8. Obrigado pelos comentários moçada! Respondendo às dúvidas:
    - Bruntoll está em fase de diagramação: o Mr Pop está escolhendo imagens e ordenando os textos para deixar o produto bonitão! Acho que até o fim desse mês estará lá no site do Old Dragon!
    - O cenário será gratuito. Clérigo, eu adoraria ver o Bruntoll em uma box, mas, por enquanto, vai ficar difícil. No entanto, estamos trabalhando no Legião, do Mr Pop, e esse sim será lançado em caixa!

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  9. Mais uma ótima aula!
    Gostei da idéia de fazer uma ficha de certos lugares, nunca descrevi lugares especificos, a menos que fossem conhecidos, ou grandes cidades. A dos PDMs também é boa, apesar de que eu sempre bolava os poderes e caracteristicas na hora, só nme dava ao trabalhar de elaborar ficha caso o PDM entrasse no grupo, e nele ficasse por muito tempo.

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  10. Excelente post prof. Mini-cenários quebram árvores para quem não tem muito tempo de bolar um mundo inteiro. Fiquei curioso para ler o Bruntoll XD. De onde tirou esse nome??

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  11. Improvisei no "Sindarin"! Hehehe! Brun (ou Brunn) significa "antigo, velho" e Toll significa "ilha", daí, "Bruntoll", "ilha antiga". Sei que serei apedrejado por linguistas élficos, mas, foi só inspiração! Hehehe! Aliás, boa parte dos locais seguem o mesmo padrão ("Parthceredir", por exemplo, significa "campos da colheita").

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  12. Maravilhosa lição Professor. Me ajudou muito com os problemas de continuidade no meu grupo misto (novatos/veteranos), já que fica muito difícil explicar o motivo para o grupo viajar duas semanas, cruzando o continente em direção ao mar só para seguir um pirata. Já estava me preparando para trazê-los de volta. Agora que fiquem em Khubar a-la Piratas do Caribe. Hehehe.

    E parabéns pelo excelente blog, sempre aprendo com vocês, obrigado.

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