quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lição: O Preço da Experiência parte I


Olá, classe! Preparados para mais um intensivo? Então, olhos à lousa e lápis (ou melhor, mouse) à mão! Nas próximas três lições, falarei sobre os níveis e sobre experiência. Como evoluir os Personagens? Como premiar os Jogadores? O que os XPs representam no mundo de jogo? Enfim, vamos começar...
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Qual é o preço da experiência? Os homens a adquirem com uma canção?
Ganham sabedoria dançando nas ruas? Não, ela é comprada pelo preço
De tudo que um homem tem, sua moradia, sua esposa, seus filhos.
A sabedoria é vendida num mercado sombrio onde ninguém vem comprar,
E no campo infecundo que o fazendeiro lavra em vão por seu pão.

William Blake, Canção da Experiência

Vasculhando minha biblioteca (ok, eu estava limpando-a...), encontrei um livro que nem sabia que tinha: "Canção da Experiência", do poeta William Blake. Sempre gostei de Blake, chegando até mesmo a incluir Urizen, uma entidade ancestral que aparece em alguns poemas dele, em uma de minhas mais memoráveis campanhas de D&D.

Titio William Blake: poeta e pintor.

Dando uma folhada no livro, encontrei o poema acima, há muito meu conhecido, intitulado "O Preço da Experiência". Foi inevitável... isso merecia um post! Ou melhor, um conjunto de posts! Assim, nas próximas três lições falaremos justamente sobre isso: experiência. Nessa primeira aula, falarei sobre como a evolução de níveis funciona em alguns RPGs e como isso pode ser alterado pelos Jogadores. Na próxima lição, falarei com os Jogadores sobre como evoluir seu Personagem de um modo melhor do que somar PVs e aumentar a Base de Ataque... por fim, a última lição desse conjunto será dedicada aos Mestres, mostrando como premiar seus Jogadores com os preciosos XPs.

Experiência e Níveis

Uma das características que mais diferencia o RPG de outros jogos é sua continuidade: um grupo poderia, virtualmente, iniciar uma campanha e mantê-la por anos. Ao longo das aventuras, o grupo de heróis vai evoluindo, adquirindo experiência e galgando níveis. Do kobold ao deus tirano, lá se vão milhares de inimigos pelo caminho. Mas, o que é a experiência e como lidar com ela?

Experiência, do latim experientia, que, traduzindo mal e porcamente (afinal, latim dificilibus pracarambis est...) significa "prova", "ensaio", "tentativa". Não é assim em nossa vida real? Não adquirimos experiência testando, provando ou mesmo estagiando? Pois é, experiência só é conquistada através de esforço. No pain, no gain, boy! Como eu quero ser um músico se não tiro um tempo para treinar com minha guitarra? Como serei um médico sem estudar e praticar muito?

Como foi que você aprendeu a ler? Digamos, se a vida fosse um RPG, saber ler e escrever seria como um Aprimoramento. O mesmo para outra língua. Como foi que você aprendeu inglês? Apenas passaram-se alguns anos e pimba, I'm speaking English? Óbvio que não. Foi ralado, meu amigo. Lá se foram horas debruçado em livros, ouvindo diálogos imbecis e repetindo "I drink water, Josh drinks juice, we eat bean"....

Então, por que em RPG isso não ocorre? Por que, principalmente em D&D e seus semelhantes, isso parece não ser verdade? Sejamos francos, quantos bardos você conheceu que realmente interpretavam um bardo? Quantos magos realmente compraram laboratórios, estudaram livros e ergueram torres em suas campanhas? Por que isso acontece? Simples: esses RPGs geralmente fornecem XPs para cada inimigo derrotado. Assim, um Personagem não combatente tem poucas chances de evoluir.

Como você acha que Chuck Norris evoluiu? Apenas lutando? Ele já foi um joão-bobo!

Em alguns jogos, a coisa até muda de figura. No Sistema Daemon, por exemplo, o Mestre dá uma nota de 0 a 10 para cada Jogador após cada aventura, baseado na atuação desse durante o jogo. Essa nota funciona como os XPs do D&D, basta acumular algumas notas boas e um novo nível é ganho. O 3d&t mescla esses dois, premiando com Pontos de Personagem (se não me falha a memória...). Mesmo assim, isso não evita que Jogadores esqueçam que seu Personagem é um "ser em evolução" e que precisa mais do que simplesmente chutar a porta da masmorra, debulhar monstros e acumular tesouros.

Trataremos mais desse assunto nos próximos dois posts, mas já dá para deixar a dica no ar: faça por merecer seus XPs, mesmo que eles venham apenas através da morte de alguns monstros. Se as regras são essas, em nada atrapalham sua interpretação durante a caçada aos bichanos. Se seu bardo só vai evoluir após superar "13 ou 16 encontros de nível adequado", nada impede que você faça suas "bardices" e cante suas canções.

Níveis? Para quê?

Quando comecei a jogar RPG, lá nos idos dos anos 90, eu e um amigo (Maiquel, o Ossur de Sundabar) adaptamos as regras dos livros-jogos "As aventuras de Robin Hood" para nossa mesa de jogo. A princípio, fizemos algo parecido com Hero Quest, mesmo sem conhecer nem ele muito menos o D&D. Se Gary e Dave não tivessem nascido antes... hehehe!

Enfim, nessas nossas aventuras não havia XPs ou níveis, apenas jogávamos. E como fazíamos para ampliar as habilidades dos Personagens? Simples, através de muito trabalho. Lembro de uma das aventuras que mestrei para nós: o Personagem de Maiquel queria melhorar sua performance em combate. Assim, ele procurou um antigo cavaleiro e pagou-lhe com vários trabalhos (levar mensagens, limpar a estrada até seu castelo dos bandidos, etc). Então, o Sir Esqueci O Nome Dele ensinou tudo o que sabia ao jovem guerreiro que, por conta desse estudo, ganhou +1 em suas jogadas de ataque.

Em outra aventura, meu personagem, um herbalista, queria ampliar seus conhecimentos sobre cura. Fizemos uma aventura em que ele encontrava Cernunnos, deus celta, supostamente da natureza e fertilidade (e tínhamos 10 anos na época...), e este, após exigir devoção a ele, premiou-lhe com um +2 em Cura.

Ah, os áureos tempos de um Robin Hood machão e... bem, esquece...

Vejam, o que fizemos foi dar razão para a ampliação das habilidades. Aquele +1 deixou de ser só uma evolução de nível, pois tinha toda uma história por trás. Lembro o quanto mudei a interpretação do herbalista, agora preocupado em não ofender Cernunnos e lhe fazer oferendas. O Personagem de Maiquel ficou amigo do Sir Esqueci o Nome Dele, chegando até mesmo a casar com a filha desse. As possibilidades narrativas eram infinitas! Nos RPGs de hoje, infelizmente, não vejo isso acontecer. "Ah, mais um nível", diz o Jogador, anotando os novos bônus em sua ficha.

Como viram, o assunto é amplo e rende bons bate-papos. Não esqueça de seus comentários aí embaixo, para que possamos ouvir o que você pensa. Na próxima lição, Jogadores, vamos ver como dar mais valor àquele nivelzinho que você vai conquistar na próxima aventura. Abraços!

P.S: o que acham de uma votação sobre os assuntos das próximas lições?
Prof. AlessandroAlessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade.

12 comentários:

  1. votaçõs sao sempre interessantes ;)

    a invenção do nivel no rpg vem do "quanto vale seu guerreiro": um guerreiro de nivel dois valia por 2 guerreiros, por exemplo.

    um aragorn vale varios guardinhas, e por ai vai.
    a experiencia é um assunto interessante. eu ja fiz ponto a ponto, ate os pcs passarem de nivel, mas tb ja fiz por "aproximação": qd alguns desafios eram vencidos, apos um tempo, e de acordo com o storyline, os pcs subiam de nivel

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  2. Legal! Isso me lembrou quando narrei para uma amiga e a elfa maga dela quis tirar o sangue do monstro da ferrugem para fazer uma análise quando voltasse para a vila. Eu dei XP extra por isso, mas não disse que daria o XP antes dela fazer, foi na pura interpretação. E era uma das primeiras vezes que jogava.

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  3. Concordo com o professor. Sem motivo, não deve haver evolução, é isso que penso. A experiência vem por desenvolver-se no seu papel (afinal, "role" quer dizer papel).

    Lembro que no AD&D, ao passar os níveis, os pjs tinham que construir seus castelos, torres, feudos e coisas assim, o que era fantástico. Infelizmente isso se perdeu, como tantas outras coisas legais da época Old School.

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  4. Bom post, Professor! Esse sistema de XP por combate devia mudar pra acabar com essa palhaçada de ter que matar X monstros pra passar de nível mesmo... na vida real a gente ganha experiência adoidado sem matar orc nenhum (exceto no caso de policiais competentes), porque no RPG devia ser diferente? :D

    Falando no Chuck Norris, ouvi uns rumores de que a Wizards ia criar um livro pra níveis ALÉM dos níveis épicos do 3.X, que ia elevar os personagens aos Níveis Nórricos, mas os desenvolvedores do projeto sumiram misteriosamente alguns segundos após essa notícia ter sido dada ao Chuck O.O

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  5. Como sempre um show de post prof. Adoro a arte do William Blake ele era um cara piradaço, membro da golden dawn se não me engano.

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  6. Só eu ri com a piada do Encaitar??? kkkkkkk

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Post maravilhoso professor! E veio em hora bastante oportuna, já que acabei de iniciar uma nova campanha com meu grupo.

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  9. Muito bom o post, mas vai falar isso pros meus jogadores pra ver... o Daniel que joga de mago quase partiu pra cima de mim quando eu disse que quando ele passasse de nivel teria que procurar um mago, tomo, pergaminho, guilda ou sei la o que pra aprender uma magia nova...(Mighty Blade).
    Adorei o post, um achado essa serie pra mestres e jogadores, muito bom mesmo!!!

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  10. Muito bom o post professor... deu até umas boas ideias para as regras de ganhos de XP.

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  11. Muito bom o Post Professor!
    Um tanto Old School esse método, bem legal.
    Quanto a votação, eu apoio.

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