terça-feira, 22 de novembro de 2011

Lição: Monstros São Seres Incompreendidos?

Buenas, moçada! Embora profundamente triste e abalado pela partida de nosso guru RPGístico, não podemos deixar a peteca cair! Portanto, eis aí mais uma lição. Hoje, pretendo falar um pouco sobre monstros, mas não para você sair debulhando não! Para você tentar compreendê-los...


A cena é clássica: o grupo de aventureiros vê um acampamento goblin/kobold/orc/algumacriaturaprimitiva e sai atacando em carga, queimando o lugar todo e pilhando tudo, afinal, eram monstros terríveis. Será mesmo?

Esses tempos, reli “Frankenstein: ou O Moderno Prometeu”, de Mary Shelley, e iniciei a releitura de “Drácula”, de Bram Stocker. Então, surgiu-me a questão: por que a mente humana é tão sedenta por esses seres grotescos que povoam o imaginário popular e milhares de páginas em nossa literatura? E por que, em jogos de RPG, nunca nos questionamos sobre a vida desses seres e partimos para a agressão?

Em “Vampiro, a Máscara”, logo na introdução, Hagen fornece a luz necessária para encontrar várias respostas possíveis à minha pergunta: o monstro somos nós mesmos. O monstro nada mais é do que nosso “ego-sombrio”. Através desses seres, olhamos por um espelho sinistro e compreendemos melhor nosso interior.
Mark Rein "Bolinha" Hagen: você imaginava ele assim?! Eu não...

Os monstros libertam nosso lado agressivo e instintivo (vejam o caso da criatura de Frankenstein; embora sábia e até mesmo mais criativa que seu próprio criador, ela não refuta seus desejos de vingança e inicia uma série de atrocidades contra seu “pai”). Além disso, os monstros nos livram da culpa hipócrita que sentimos. Em “Paraíso Perdido” de Milton, por exemplo, quantas pessoas não achariam justa a queda de Lúcifer, mas teriam tomado a mesma atitude do anjo caído perante aquela situação? Ou, numa passagem do próprio “Frankenstein”, em que a criatura (não obstante chamada de “infeliz”, “demônio”, “assassino” e outros termos por seu criador) responde ao capitão Walton, após esse tê-lo chamado de demônio hipócrita:

“— Devo considerar-me o único criminoso, quando toda a humanidade pecou contra mim?” — e a criatura segue exemplos vistos durante a obra — “Não! Esses são os seres virtuosos e puros! Eu, o miserável e o abandonado, eu sou o aborto, que deve ser desprezado, repelido e espezinhado.”
Além de feioso, filósofo... e essa mãozinha, rapaz?! Será a onda Crepúsculo?
Percebam o que a criatura está nos dizendo: ele, apenas por ser um "monstro" visualmente falando,  é o culpado. A humanidade não tem culpa nenhuma, afinal, só estava se "defendendo" dele... Vamos comparar isso com nossos infelizes goblins: eles são repugnantes, mesquinhos, selvagens e o escambáu. Mas, são, essencialmente, maus? Evidente que, em certos cenários, sim, como na Terra Média, onde orcs são maus em sua essência. No entanto, nem todos os cenários deveriam ser assim.

Obviamente, não estou pregando a paz entre os povos e os monstros dos cenários de RPG, afinal, isso acabaria com grande parte da diversão que é dar umas piabas naquele troll que ataca o vilarejo! O que não compreendo é essa visão maniqueísta de que todo o ser "feioso", grotesco e selvagem necessita sempre ser uma criatura má, perigosa, mortífera e que precisa ser eliminada. Um troll poderia ser um heremita (sem comparações com o Shrek, por favor...), não aquele canibal suicida que ataca qualquer um que passe na sua frente.

Isso também nos leva a outro ponto: o monstro como pretexto. Você já ouviu falar de alguma comunidade de gigantes? Ou uma tribo organizada de goblins? Provavelmente não: eles não passam de obstáculos colocados na frente dos personagens para fornecer XPs. Eles são a lenha, o XP é a fogueira.

E o que dizer dos monstros com um mínimo de inteligência. Vamos pegar os kobolds: eles não são tão espertos, é verdade, mas, sinceramente, não vejo porque atacariam um vilarejo sem um ÓTIMO motivo. Senso de perigo eles deveriam ter, ou entrariam em extinção.

Gosto de pensar nas raças e seres fantásticos como animais comuns, apenas evoluídos de forma diferente. Com excessão das bestas mágicas criadas por magos insanos ou entidades cósmicas apelonas, pode ser um pensamento correto. Assim, para ainda existirem no mundo, essa raça/espécie certamente sabe como se virar, ao menos em seu território, e não atacaria presas maiores do que poderiam vencer.

Então, galera, por hoje era só isso (uma lição curta, afinal!)! Com o final de ano se aproximando, as coisas ficam ainda mais apertadas por aqui, mas, depois do dia 16, aguardem por grandes lições! Um abraço e até semana que vem!
Prof. AlessandroAlessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade.

6 comentários:

  1. Ah, eu vejo desta forma também os monstros feiosos, em minha aventuras, tento colocar um motivo convincente para que estes façam o que estão fazendo, mas nem sempre então errados. Uma contradição que os jogadores tem muita dificuldade em resolve.

    Ótimo post ^^

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  2. O Mark Rein era um BRUJAH ???????

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  3. otima lição

    aconselho a lerem a webcomic "Goblins"

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  4. Eu curti o post. Esse assunto sobre monstros serem sempre considerados vilões, vamos dizer assim, é interessante para mim e até chego a trabalhar sobre isso no cenário dos meus livros.

    Ai, ai... Até queria comentar mais usando um pouco do meu material como exemplo, mas se eu o fizer, spoiler à vista^^

    Mas reforçando!! Gostei do post^^

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  5. Outra grande lição! ^^

    Nem tudo o que parece ruim é mal (assim como os "bonzinhos" podem ser os verdadeiros vilões de vez em quando o.O)...

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