Para quem não conhece, Shotgun Diaries é uma criação de John Wick (um baita game designer americano) e fala sobre Sobreviventes em um mundo infestado por zumbis. Quando o Mr. Pop me convidou para a tradução, não tive dúvidas em aceitar, já que adoro essa temática e já havia ouvido falar no jogo.
As regras de Shotgun são bem simples, focando muito mais na narrativa e na interpretação do que em fichas, dados e rolagens. No playtest que fiz com meu grupo, todos gostaram, principalmente pela adrenalina que o jogo proporciona: ação e terror sem parar! Cada minuto de tempo real são mais zumbis cercando os Personagens! Outro ponto que todos gostaram foi o Diário, os registros daquilo que seu Personagem viu na sessão e que podem dar bônus para situações futuras.
Depois de um dia caçando zumbis, nada melhor do que aquecer-se diante de uma fogueira...
Como temos pouco tempo, jogamos apenas uma sessão e os Jogadores escreveram apenas uma nota em seus diários. Porém, isso foi o suficiente para despertar o interesse por escrever diários em nossa campanha usual de D&D, ou seja, escrever o que seu Personagem viveu a cada aventura. “Ora”, diz o leitor impaciente, “isso eu já conheço, são os diários de campanha”. Bom, sim e não. Vejamos a diferença:
Diários de Campanha
Esses diários geralmente são escritos pelo Mestre ou um dos Jogadores, exatamente como os Diários de Campanha do Clérigo aqui no blog. Eles apresentam um resumo do que aconteceu na sessão (ou sessões), mas, normalmente, de um jeito informal, como em uma conversa entre amigos RPGistas.
“Diários em Primeira Pessoa”
O diário proposto pelo Shotgun e que alguns de meus Jogadores começaram a fazer apresenta outro ponto de vista: o do Personagem. É como ler o diário de uma pessoa real. Narrado em primeira pessoa, sem comentários metajogo ou sobre a “vida real”, ele apresenta o que o Personagem sentiu durante aquela aventura.
Inspirem-se em Bilbo e escrevam suas aventuras! Lá e de volta outra vez!
Uso em Campanhas
Criar diários em que cada Jogador relate o que seu Personagem viveu traz inúmeros benefícios, até mesmo uma melhoria no escritor que há dentro de cada um! Mas, como estamos falando mais do ponto de vista divertido e não didático, vejamos quais as vantagens desse Diário.
- Maior vivência da história: no começo de qualquer campanha, é difícil que o Jogador se apegue muito a seu Personagem. No entanto, após duas ou três aventuras descritas em seu diário, uma “vida” ganha forma. Boa parte dos escritores confessa que seus Personagens às vezes saem do controle e ganham vida própria enquanto eles escrevem seus livros.
- Estímulo a interpretação: conhecendo o dia-a-dia de seu Personagem, logo o Jogador perceberá os trejeitos que sequer havia pensado para ele. Há uma identificação maior com o que acontece na campanha e o modo como cada NPC interage com seu Personagem será mais marcante.
- Memórias da campanha sempre à mão: os Mestres sabem como é frustrante criar aquele NPC bacana e, na parte mais importante da história, um dos Jogadores perguntar: “como é que é o nome dele mesmo?”. Com os diários, dificilmente isso aconteceria: além de ajudar a memorizar o nome dos NPCs encontrados, o diário permite uma rápida consulta aos nomes bizarros que alguns Mestres dão a eles.
- Registro da campanha: ao final da campanha, cada Jogador terá praticamente um livro em suas mãos! Poder reler e relembrar tudo o que aconteceu durante os meses (quem sabe, anos) de aventuras certamente será empolgante.
Além desses benefícios, pensamos em algo que sempre nos foi muito difícil de ministrar: a premiação em XP. Prêmios por monstros vencidos, tudo bem, mas como pontuar ações bem pensadas ou interpretações bem feitas? Lendo os diários dos Jogadores, o Mestre perceberá quem foram os Personagens mais marcantes e quais ações foram as mais importantes, pois, certamente, aparecerão mais vezes nas notas feitas.
Por fim, esse diário pode ser usado pelo Mestre como um termômetro da campanha, um poço de ideias para futuras aventuras e um modo de descobrir o que mais agrada seus Jogadores (além daquilo que mais os apavora).
Então, moçada, era isso! Uma liçãozinha rápida, em ritmo de férias! Aliás, com esse frio e essa chuva caindo lá fora, vou esticar um pouco as pernas sob as cobertas. Um abraço e até semana que vem!
Alessandro é professor de Inglês, Espanhol, Português, Religião e Literatura devido à profissão. Cineasta, cientista, astrônomo (não astrólogo...), artista plástico, ator, músico, linguista, poliglota, crítico e escritor devido à paixão. Leitor, RPGista, nerd, cinéfilo, enólogo e ocultista devido à diversão. Maníaco por cultura devido a algum mal genético. Ah, e chato, por pura força de vontade. |
muitolegal! ficamos no aguardo dos resultados disso em jogo!
ResponderExcluirDeve ser um ótimo jogo, com certeza o trabalho final de tradução tbm...
ResponderExcluirestou ansioso para testa-lo
Nossa, estava pensando em escrever um artigo justamente a respeito desse assunto para o Mundo Tentacular.
ResponderExcluirMuito bom, Alessandro.
E jogo bem interessante esse.
Excelente post, professor! A Astreya costuma fazer isso lá no Cancioneiro. Dêem uma olhada nos Diários de Astreya:
ResponderExcluirhttp://cancioneirodeastreya.blogspot.com/search/label/Di%C3%A1rio%20de%20Astreya
Nossa que legal, estimula a negada escrever BOA o/
ResponderExcluirEu particularmente acho isso sensacional, apesar de nunca ter conseguido colocar em prática em um grupo inteiro, tipo, todos os jogadores fazerem sistematicamente. Acredito que um grupo que tem essa prática, independente de ganho de XP ou não, mas por vontade própria e pelo prazer da experiência, esta dando ao RPG a oportunidade de mostrar o seu lado mais fantástico. É triste ver como é difícil formar um grupo assim... Se jogar algo que precisa de um esforço intelectual maior que um videogame já é visto com desconfiança por boa parte da minha geração (e olha que eu não sou assim tão novo, e naquelas que me seguiram só vejo isso se acentuar, imagine ter de escrever uma "redação" ao final de cada partida!
ResponderExcluirFico contente em ver pessoas empolgadas com essa possibilidade, e ao mesmo tempo com inveja de não jogar com elas... Moro em Recife, e apesar de não conhecer nem de longe todos os jogadores da cidade (uma comunidade deveras desunida, aliás...)percebo uma certa preguiça generalizada em fazer aquilo ao qual o RPG melhor se presta: contar histórias! É estranho...
Estarei começando agora em agosto uma nova campanha de D&D em que minha personagem possui um diário de viagem do pai, relatando as aventuras do mesmo, e ela escreve todo dia seu próprio diário, muitas vezes fazendo comparações com o de seu genitor, concordando e refutando conclusões do mesmo sobre determinada situação. Pretendo realmente escrever esse diário, e acho que será uma ótima experiência e um prazeroso exercício literário.
Bom, parabéns pelo post, Alessandro. Fico no aguardo do resultado dessa tradução, pois o jogo parece ser muito legal.
abraço a todos!
Double comment clerical: outro jogo em que é necessário manter um diário é o Castelo Falkenstein.
ResponderExcluirSe não me engano os jogadores tem que manter um diário, enquanto que o Anfitrião (o mestre) tem que escrever um romance contando a história jogada.
Uma vez tentei manter um diário do personagem, escrevendo no mínimo umas cinco linhas ao fim de cada aventura, mas enjoei... não gostei muito daquele mago não, haha ^^
ResponderExcluirminha ultima campanha de D&D 4ª meu bardo tielfling tinha um diario nesse estilo narrativo. Mua' Dib, o senhor dos desertos.
ResponderExcluirRapaz... Sensacional a proposta desse diário. E de fácil adaptação pra qualquer cenário também.
ResponderExcluirInteressante para o mestre que poderá reler a aventura com outro ponto de vista e saber qual foi a sensação que passou para os jogadores.
Eu faço isso com minha barda, é ótimo, mas dá um trabaaalho, estou duas sessões atrasada e o ideal é fazer um pouco depois, já que os detalhes que enriquecem a estória se perdem na memória com o tempo...
ResponderExcluirEm compensação, meu "conhecimento de bardo" tem crescido mto, pois eu lembro de vários detalhes das sessões anteriores e dependo menos da Mestra Bel ficar falando/repetindo tudo sempre o tempo todo!
É uma ótima experiência! Experimentem!
Xero!