sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Conto: Chloroform - parte 10

Mais revelações! \o/ Enjoy!


- Então... aqui estou eu... Na casa do Ninra... – a garota conhecida como Célia murmurou sem conseguir pensar em nada melhor para dizer.

Ralph tinha voltado a folhear seu livro como se a moça nem estivesse ali, concentrado demais para uma conversa de fim de tarde.

Altamente sem graça e sem ter muito o que fazer, ela, sentada no sofá, começou a olhar para todos os cantos da casa, na tentativa de encontrar um assunto para um bate-papo amistoso. Foi quando viu algo que lhe chamou muita atenção. Algo que a fez levantar do sofá e se dirigir até a parede de frente para o mesmo, onde se encontrava uma coleção pelicular.

- Que gracinha esses bonequinhos de madeira... – a garota se curvou para ver melhor as prateleiras – Foi o senhor quem as fez?

- Não. – o bigodudo respondeu sem tirar os olhos do livro. Como ele não disse mais nada, a moça teve que se contentar com o silêncio e voltar a observar aqueles personagens do tamanho de dedos.

“Ninra, então? Nossa, eu não sabia que ele tinha esse tipo de talento...”

Um sorriso amoroso inundou seu rosto, enquanto seus olhos percorriam as prateleiras, fascinados demais com tudo aquilo.

- Por que estas prateleiras de cima estão vazias? – a moça se perguntou baixinho, mais para si mesma.

- Porque começa de baixo para cima, como a vida deve ser. – a jovem olhou para a direção da voz e encontrou tio Ralph encarando-a com seu semblante carrancudo.

- “Começa”? – e voltou a olhar para as prateleiras, encontrando um pouco mais de lógica – Ah, entendi. Ele está retratando... sua própria vida.

Voltou-se para a mais próxima do chão, a do menino com carroça e as galinhas. Abriu um sorriso.

“Entendi, entendi. A chegada dele no vilarejo. Lembro direitinho de quando ele chegou naquela carroça, quase matando o senhor Belmorn do coração. Foi mesmo muito engraçado.”

A segunda prateleira mostrava o mesmo menino encolhido debaixo de uma grande árvore, que parecia observar outras crianças jogando bola.

“Bichinho-do-mato. Era assim que os aldeões o chamavam até descobrirem seu verdadeiro nome. Ele nunca brincava com a gente, não freqüentava a escolinha... Estava sempre sozinho num canto... Parecia mesmo um animal assustado.”

E por fim, a terceira.

- Olha só... Está todo mundo aqui! – exclamou encantada – O tio Remus, a tia Jane, Karla e Maria, os Herman, as crianças da escolinha, os Ulric, Kate, Fergus, Alex... e... e... – Célia quase pulou ao ver sua própria imagem junto às outras miniaturas, com uma coroa de flores na cabeça e um sorriso radiante no rosto.

“Então é assim que ele me vê?” pensou a moça, tão surpresa que não conseguia sequer falar.

As últimas gotas de água caíram em sua cabeça. O rapaz de olhos azuis respirou fundo e soltou. Ar quente saiu de sua boca, contrastando com o ar frio a sua volta. Estava parado dentro de uma cabine de madeira, embaixo de um balde cheio de furos no fundo, que recebia água de um cano preso à parede da casa. O cano era conectado até um reservatório mais adiante, e sempre que o balde se enchia, a água vazava pelos buracos, “regando” quem estivesse em baixo. Uma estranha engenhoca para aquela época, porém, muito útil.

Apoiou os braços e depois o próprio peso na portinha de madeira que cobria parte de sua nudez – apenas parte, pois a referida porta não deveria ter mais do que um metro e setenta. Com os cabelos molhados e pingando pelo rosto, fechou os olhos, numa tentativa de preparação e autocontrole para o que estava para vir. Abriu os olhos, agora determinado.

“É... Chegou a hora.”

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- Lorde Graaver, Eliott é só um órfão que me ajuda na manutenção da catedral.

O sacerdote idoso fez uma força quase sobre-humana para que a sentença parecesse o mais natural possível, embora tivesse certeza que apenas aquilo não convenceria o jovem guerreiro.

- Usa esta vestimenta para esconder a terrível doença de pele que adquiriu ainda criança. – apressou-se ainda a dizer.

- Doença de pele? – resmungou o outro, examinando Eliott de cima a baixo, pouco convencido.

- Não julguei oportuno apresentá-lo, afinal, todos os que vêm na hora da reza conhecem o menino e sabem que ele fica pouco à vontade na presença de estranhos. – forçou um sorriso que saiu fraco, como se risse da própria tragédia - Só sabe andar pelos cantos como uma sombra e observar as coisas de longe.

- Vou lhe dizer uma coisa, reverendo, pois confio no senhor. – Elyan cruzou os braços e assumiu uma postura séria, ficando em silêncio por alguns segundos; depois pareceu despertar de uma lembrança e continuou – Agora a pouco, trinta e oito homens perderam suas cabeças em execução pública, acusados de traição ao Império.

“A sentença foi oficialmente apurada em Reunião de Conselho, da qual eu tive a honra de participar pela primeira vez. Em nenhum momento da história desse Império, o poder de Lorde Guorthigern foi questionado como agora. Com o ataque desta madrugada, com os rebeldes às portas do palácio, os Conselheiros temem, e com razão, que a notícia de um comando fraco e uma possível guerrilha interna se espalhe como palha ao vendo, abalando nossa aliança com os Reinos vizinhos e fortalecendo a confiança de velhos inimigos.”

- E após muita discussão e ponderação que foi instituído estado de sítio em todo o território de Savassa; o Imperador em pessoa se apresentará em alguns minutos para o pronunciamento oficial.

- Estado de sítio?! – o clérigo repetiu com olhos arregalados, incapaz de conter o espanto.

- Então o senhor entende o que isso significa. – Graaver lhe lançou um olhar penetrante – Obviamente, nada disso estaria acontecendo se um estranho não tivesse penetrado no palácio, andando pelos cantos como uma sombra, – frisou bem a sentença, observando Eliott pelo canto do olho – até chegar aos aposentos reais. Não fosse esse acontecimento, eu poderia facilmente ignorar essa situação que agora nos encontramos, aceitando com plena satisfação a sua palavra, deixando o garoto ir em paz. Mas, nas atuais circunstâncias, - levou a mão direita ao cabo da espada presa à bainha em sua cintura, num gesto muito intimidador – eu terei de ser um pouco mais insistente. Peço a sua compreensão.

Aquela foi a gota d’água. Elora não teria escapatória a não ser revelar a sua figura àquele homem autoritário.

“Acabou. Estou morta! Quando ele descobrir que foi enganado... Pelos Deuses, o que virá a seguir? Vão nos matar, com certeza. A mim e ao padrinho, pobre homem, que encobriu a minha presença todos esses anos...”

Uma situação que ela nem se atreveria a pensar. Mas foi obrigada, pois, naquele momento, Lorde Graaver se voltou para ela, com a cara fechada de impaciência.

- Será que preciso ser mais claro?

O sacerdote juntou as duas mãos numa prece desesperada.

“Grande Yenros, nunca o implorei com tanto fervor como agora... Mas por tudo que é mais sagrado, livra esta tua serva desse grande infortúnio!”

- Lorde Graaver! – um grito abafado ecoou do outro lado do cômodo e em seguida, a porta se abriu com tanta força e rapidez que todos se voltaram para ela, inteiramente assustados. Elora, que estava bem na frente, foi arremessada contra a parede lateral e imprensada entre os dois planos, ficando completamente fora de vista.

- Para que tanta confusão? – perguntou o nobre profundamente irritado com a interrupção.

- Meu senhor... – o soldado que entrou colocou a mão no peito, respirando acelerado como se tivesse participado de uma corrida olímpica – A prisão...

- O que tem a prisão?

- A prisão... está em chamas!

- O QUE?!

Elyan voou para fora do quarto como uma manada furiosa em debandada; o mensageiro correu atrás dele, sem conseguir acompanhar. O cômodo ficou em um silêncio profundo outra vez, e então foi quebrado pelo ranger da porta que voltava a se fechar. A moça caiu ao chão lentamente, se escorando na parede. E se ela tivesse alguma dúvida de que aquilo fora a mão de Yenros ao seu auxilio, naquele momento, a garota teve certeza que milagres existiam. Tombou a cabeça para o lado, respirando aliviada.

- Estou salva.

Continua...

Giovana-chanGiovana-chan é uma garota cheia de manias, poucos amigos, e dona de uma mente insana. Fã incondicional de cinema, livros e games, prefere atividades que envolvam sofás bem acolchoados. Morre de vergonha de falar em público e odeia a idéia de ter que falar de si mesma na terceira pessoa.

4 comentários:

  1. Só com ajuda dos deuses pra escapar daquela situação mesmo.. hehehe

    ta bem legal gi, aguardando próxima parte ^^

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  2. Por que sempre acaba na hora que está ficando bom???

    Ótimo trabalho Gi, no aguardo da continuação....

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  3. AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH Eu quero mais!!!!!!!!! Milagres são reais, já dizia um velho conhecido meu! Tá ficando muito bom Gi. Esperando a próxima.

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  4. UFA!!

    Elora foi salva pelo incêndio...

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