Ninra entrou com roupas esfarrapadas dentro de uma casa muito humilde, com pouquíssimos cômodos. Olhou para a panela que fervia no fogão à lenha, situado bem abaixo do buraco de uma das chaminés. Balançou a cabeça positivamente, aprovando a refeição que parecia no ponto. Depois, se aproximou de um cantinho em frente ao velho sofá, onde havia oito prateleiras na parede, uma embaixo da outra. Nestas estantes, dispostas de cima a baixo, havia miniaturas de madeira. E as malditas eram perfeitas. Obras de um verdadeiro mestre dedicado.
Voltou sua atenção para a prateleira mais próxima do chão. Nela, estava posicionada a miniatura de um menino, uma carroça, uma casinha e um velho bem baixinho com algumas galinhas. O rapaz pegou o que representava a criança e o girou entre as mãos, pensativo. Após alguns segundos, voltou com a peça para seu lugar e esticou as pernas, agora se dirigindo à terceira prateleira. Um rapaz um pouco mais velho, a mesma casinha e, em vez de galinhas, muitas pessoas. Tanto velhos como crianças, tanto homens como mulheres. Entretanto, o trabalho era tão minucioso e detalhado, que cada personagem era representado de uma forma diferente e única.
Abriu a mão esquerda e lá estava mais um aldeão em seu formato miniatura, dessa vez, uma jovem moça com uma estranha coroa na cabeça e os cabelos compridos soltos. Posicionou metodicamente a mais nova peça junto às outras e ficou ali, admirando com satisfação seu pequeno tesouro de madeira.
- NINRA!!! NINRAAAAA! – o grito fez o jovem estampar uma careta no rosto e desviar sua atenção à voz.
- Já estou indo! – gritou em resposta.
- VENHA AGORA!
Aquilo o fez respirar fundo, numa expressão que queria dizer: “Dai-me forças, Senhor!”
Foi quase em um pulo que Ninra chegou ao porão da casa, transformado
- NINRAAAAA! – gritou outra vez, e a voz era de um homenzinho quase sem cabelo no topo da cabeça, mas que compensava no tamanho da barriga e do bigode.
- Tô aqui, já cheguei.
- Ah, pensei que estivesse lá fora vagabundando. Demorou demais. – resmungou o velho que trabalhava esculpindo uma estátua humana em tamanho real.
- Do que o senhor precisa? – perguntou com tranqüilidade, indo direto ao ponto.
- Deixei meu martelo lá na Floricultura. Vá lá buscar pra mim.
- Já peguei hoje de manhã. Coloquei junto com suas outras ferramentas, ali na parede.
O velho olhou de imediato para a dita parede e lá estava ele, como se nunca tivesse saído dali. Ralph soltou um resmungo que não se sabia ser de aprovação ou de uma surpresa que tentava ser refreada.
- Bom, o galinheiro está precisando de faxina então...
- Limpei o galinheiro, faz uma hora. – respondeu antes que o homem terminasse a frase.
- Seu quarto está uma bagunça...
- Usei o tempo do desjejum para organizar minhas coisas.
- E as roupas?
- Lavadas.
- Os livros?
- Guardados. Organizei por ordem de assunto, se o senhor não se importa. Também limpei o curral, os bebedouros, comedouros e o chiqueiro, como o senhor me pediu ontem à noite. E o almoço sai em dez minutos.
O velho olhou para o jovem um pouco mais surpreso, sem saber o que dizer ou mandá-lo fazer
- Espero que ao menos tenha lavado as mãos antes de tocar na comida.
E o rapaz de olhos azuis riu.
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As pesadas portas de madeira e ferro rangeram quando aqueles dois personagens entraram na prisão; o lugar mais nojento, sombrio e claustrofóbico que alguém poderia ter a infelicidade de estar. Ali não havia janelas, apenas um corredor fracamente iluminado por tochas de tantos em tantos metros, com ratazanas correndo de um lado para o outro tentando passar pelas fendas nas paredes de pedra bruta. As portas das celas, uma de frente para a outra, eram pesadas e maciças, com apenas uma pequena greta para ver se os condenados daquela câmara ainda não tinham matado uns aos outros.
E havia os gritos.
Não era possível visualizar quem estava lá dentro devido à falta de luz no interior dos cubículos, mas era possível escutar o ranger de dentes das almas atormentadas naquela escuridão.
- Por aqui, senhora. – foi a voz de uma militar que trouxe a mulher encapuzada de volta para a realidade. Uma mulher que não estava acostumada a perambular por aquele tipo de ambiente, por ser muito nobre.
Mais estranho do que ver uma nobre dentro de uma prisão, só poderia ser a visão de outra mulher em uma patente que até então só era ocupada pelo sexo oposto.
- Capitã, onde estão os soldados que guardam este local? – perguntou a nobre encapuzada, achando aquela situação muito além do anormal.
A oficial, que até então andava em sua frente mostrando a direção, parou na última cela, a mais isolada de todas, e abriu a porta com seu molho de chaves.
- Foram dispensados ou subornados.
Um estalo.
A porta da cela se abriu.
A mulher entrou, retirando o capuz, revelando ser ninguém menos do que a própria imperatriz daquela fortaleza e, sobretudo, mãe de Elyan Graaver. O interior estava escuro, como era de se esperar. A militar transferiu uma das tochas do corredor para o interior do minúsculo cômodo. Saiu do aposento e fechou a porta.
O homem muito ferido estava agora iluminado pela luz bruxuleante que ali predominava. Jogado em um canto como a carcaça de um cachorro morto, possuía ataduras diagonais no tronco ferido e uma respiração acelerada de quem luta sem esperanças contra a morte.
E foi com extrema compaixão e tristeza que aquela mulher poderosa se aproximou do rapaz e acariciou-lhe o rosto, como alguém que enfim encontra sua ovelha perdida.
- Ah minha criança... o que o mundo fez a você? – ela murmurou com uma lágrima escorrendo em seu rosto pálido.
Ele abriu fracamente os olhos, sem conseguir discernir um palmo a sua frente.
- Quem... é você...? – murmurou sem forças. A mulher achou graça na trágica verdade.
- Eu? Sou a responsável pelo estado miserável que você se encontra. Por todo o seu tormento. É normal que não se lembre de mim. Não nos vemos há muito tempo. Eu... sou a sua mãe.
- Por que está aqui? – pergunta óbvia, proferida com rancor.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
- Apenas para dizer... – e as lágrimas romperam novamente, misturado a soluços reprimidos – que você não teve culpa de nada. Eu... não queria... que fosse assim. Não queria... separar vocês dois... Mas foi por causa de seu pai... Eu só quero que saiba... que... eu o amo tanto quanto o amaria se estivesse ao meu lado todo esse tempo.
- Eu não preciso de suas explicações... – resmungou seco, virando o rosto - Apenas me deixe morrer aqui.
E o semblante da mulher se tornou em desespero.
- Eu esperava... poder me redimir. O perdão de um filho... é tudo o que uma mãe pode desejar.
- Fala como se isso mudasse alguma coisa... Vá embora. Nunca precisei de você... Não é agora que vou aceitar sua compaixão.
A dama se levantou e mais do que nunca desejou não estar ali. Desaparecer por completo. O desapontamento estava estampado em seu semblante, assim como a agonia de ser negada por seu próprio sangue. Aproximou-se da porta, sentindo o peso do mundo em suas costas. Deu duas batidas. Não demorou muito e a chefe militar abriu lhe dando passagem.
Olhou para o filho desgarrado antes de sair, que não a encarou de volta. A nobre puxou o gorro, escondendo a cabeça. Não havia mais nada a ser feito.
- Capitã Ilana, como combinamos de antemão, dê um fim a esse tormento, por favor. – proferiu ainda angustiada, andando pelo corredor sem olhar para trás.
- Perfeitamente, Majestade.
Continua...
Giovana-chan é uma garota cheia de manias, poucos amigos, e dona de uma mente insana. Fã incondicional de cinema, livros e games, prefere atividades que envolvam sofás bem acolchoados. Morre de vergonha de falar em público e odeia a idéia de ter que falar de si mesma na terceira pessoa. |
Coooool. =D
ResponderExcluirÉ, ta massa o conto, vamo ve qualé a do gurizao, muito engraçada a parte dele por sinal ^^
ResponderExcluirTo acompanhando, esperando a próxima parte!
ResponderExcluirMe lembrei do desenho do Corcunda de Notredame, ele esculpia em madeira todas as pessoas que ele via na vila lá embaixo... Só não sei se era assim no romance original :p
Descrições "avassaladoras"!
Muito legal mesmo!!!
ResponderExcluirContinue assim Gi-chan.
Maluco... a situação tá ficando tensa! Assuntos de família sempre dão pano pra manga... e muito!
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