terça-feira, 1 de novembro de 2011

Cantiga do Trovador: Os Mortos do Palácio de Gelo


O bardo retorna à Ordem. Como é bom respirar os ares de um ambiente familiar uma vez mais. Ah, e quanto caminhei para chegar até aqui! Estou até com minhas botas rasgadas e minha capa ainda carrega a umidade dos flocos de neve que se derreteram enquanto voltava à Ordem do RPG para relatar minhas andanças pelos lados do norte deste reino tão vasto. Mas... o que houve aqui? Está tudo tão diferente. Será que meus pesadelos nos glácios longínquos tomou forma no lar de meus repousos? Espero que não, mas de qualquer forma, aqui se vai o que me houve pelo tempo em que estive ausente coletando bardices (desta vez verídicas) puramente para vosso entretenimento e, claro, como alerta para que tomades cuidado, companheiros e companheiras:





======================================================

De tudo o que eu vira nos dias que andei,
Tal coisa como esta jamais eu contei.
Não faço questão de o fazer: tentarei,
Pra que isto se torne um aviso de amigo.

Nas terras longínquas do norte gelado
Existe uma torre de mal vanguardado
Que, feita num tempo remoto, passado,
Às trevas mais negras perfaz um abrigo.

Não entrem, meus jovens, não entrem, me creiam,
Pois lá seus maiores temores se enleiam
E digo pra todos que a eles receiam
Pra que isto se torne um aviso de amigo.

Rumava este bardo com seu bandolim
Na sua jornada sem meio e sem fim,
Perdido no gelo, cantando em festim,
Pois mesmo sem rumo, a alegria é consigo.

A fome abateu-lhe em desmaio traidor,
Deixando-lhe às garras de lobo e condor;
E rimas mais negras eu hei de compor
Pra que isto se torne um aviso de amigo.

Nem sonhos houveram, nem nada demais
Na hora em que o bardo acordou incapaz
De suas canções entoar por audaz
Ardil de ilusão de um palácio antigo.

Em cama macia encontrava-se o bardo,
Num quarto de rei, de madeiro tão pardo,
Mas devo dizer que tal coisa é um fardo,
Pra que isto se torne um aviso de amigo.

De novo voltara a palavra aos seus lábios.
Saíra da cama pensando nos sábios:
O que ele faria se fosse um dos sábios?
Mas bardos não sabem dos seus inimigos.

Trajado com vestes douradas, descera
Por entre as escadas e velas de cera
E força eu vislumbro no que sucedera
Pra que isto se torne um aviso de amigo:

Sentada a uma mesa de grande largura
Estava uma dama co'olhar de ternura
Vestida com roupas da cor mais escura
E às suas feições descrever eu me obrigo:

Seus olhos detinham a sombra da treva,
Tão clara era a pele, tão clara que neva;
Mas digo que nela o perigo se eleva,
Pra que isto se torne um aviso de amigo.

O bardo assentou-se às palavras da dama:
"Vieste de longe e salvei-te da chama
Te dando remédios, tratando-te à cama;
Te assenta ao jantar, come e bebe comigo."

"Não sei quem tu és, eu porém te agradeço.
Se tu não me salvas, decerto pereço."
Mas ele lhe disse inocente do preço...
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

O vinho servia a tirar-lhe os sentidos,
Mas ele bebia sem ser comedido,
De acordo co'os planos a ele omitidos:
Caía em ardil tão nefasto e antigo.

Enquanto brindava co'a taça na mão,
Saía de dentro da vã escuridão
Nefasto animal invadindo o salão:
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

Mais outro e mais outro, já estavam de dez,
E vinham ainda mais desses infiéis,
Gritantes, cercando formavam anéis
Em volta da mesa, do vinho e do trigo,

Em volta do bardo, da dama e de tudo,
Mas param a metros distantes, e mudos,
Detidos por algo, uma força, um escudo;
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

Seus rostos cadáveres eram de certo,
Seus corpos andavam, chegavam bem perto,
Cheirando a fedor qual suor no deserto,
Gemiam sem vida, cadê seu jazigo?

O bardo não via tal coisa parado,
Mas era impelido a ficar lá sentado
Comendo e bebendo, em magia marcado;
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

De seu bandolim escapara um suspiro,
Pois tal instrumento é pro bardo o respiro,
E nesse momento se viu seu inspiro,
Na mágica rubra notou o inimigo:

Não era donzela de paz a senhora,
Mas antes um ser já passado da hora,
Do qual seu semblante aos gentis apavora:
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

"Tu hás de ficar, saciar-nos a fome,
Pois esta miséria total nos consome,
Ninguém neste mundo há lembrar do teu nome:
Serás um de nós, tu já sabes, amigo!"

A mágica falsa o mancebo notou,
De todos os males fugiu, se livrou,
Com mágica pura a canção ressoou:
Eu sei, meus amigos, eu sei do que digo.

Aos mortos cegara, pois, todos co'a luz
Do som sinestésico e bravo que induz
A serem vencidos no que eu lhes compus:
Eu sei, meus amigos, eu sou o bardo antigo..

======================================================

A arte visual que encabeça esta trova foi criada por minha querida amiga Gabriela, e encontra-se postada originalmente neste link. Agradeço por poder ilustrar meu post com sua arte ^^

6 comentários:

  1. haha, virei fã desse bardo, e parabens, ficou muito bom, as rimas e a canção, olha só a rima aqui, gostei mesmo. tchau.

    ResponderExcluir
  2. Ficou muito bom mesmo, nobre Encaitar... admiro muito aqueles que tem a capacidade de escrever poemas, cantigas... parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Nossa, muito bom Encaitar, muito bom mesmo

    ResponderExcluir
  4. T-T Uma lagrima escorreu pelo meu rosto...
    Nossa, isso é um talento divino! Cara, vc é demais!

    ResponderExcluir
  5. Arte mesmo é 90% transpiração e 5% inspiração, talento ou dom é ilusão. Parabéns cara ficou D+

    ResponderExcluir
  6. Maluco! Simplesmente incrível! Encaitar é o maior poeta RPGístico da blogosfera. #prontofalei

    ResponderExcluir

Seja um comentarista, mas não um troll! Comentários com palavrões ou linguagem depreciativa serão deletados.