Ok, pessoal. Chegamos ao fim do Prólogo. Daqui pra frente é pra valer. Vamos conhecer o personagem principal da história, e um pouco de sua vida. Essa parte é um pouco mais descontraída e eu não resisti em colocar alguns emotes nas passagens mais cômicas!
Enjoy!
O pasto perdia seu habitual tom esverdeado, simbolizando o fim de uma estação e começo de outra. A manhã estava fria e o rebanho pastava pacientemente como crianças que desconhecem o perigo. Havia um homem entre eles. Apenas um rapaz, na verdade. Era de aspecto comum para o padrão dos aldeões daquela região. Os cabelos castanhos eram levemente arrepiados, tinha altura mediana e pele clara, e nada mais que chamasse atenção, com exceção dos intensos olhos azuis. Naquele momento, ordenhava as vacas mecanicamente, com os pensamentos longes dali.
Ao terminar, levantou de seu banquinho de madeira e esticou a coluna lentamente, com as mãos nas costas. Puxou o ar frio e soltou na mesma velocidade. Acariciou o bovino.
- Pode ir Merlose. Obrigado por contribuir com o desjejum de hoje.
O animal mugiu como se respondesse, caminhando lentamente para perto das outras vacas.
O jovem olhou para além do humilde vilarejo construído em meio à topografia tortuosa. Muito além. Uma gigantesca cordilheira gelada, uma infinita muralha, se erguia imponente no horizonte, ao Norte. Era impossível olhar para ela e não sentir um pouco de medo.
Desviou o olhar. Inspirou e soltou o ar mais uma vez com lentidão.
- Nada como a manhã de um novo dia. - murmurou. Um latido. Olhou para baixo - Concorda, Rufus?
O cão de porte médio latiu novamente abanando o rabo. Cheirou os dois baldes de latão, cheios de leite.
- Não, não, não. Isso não é pra você. Lá dentro eu sirvo a sua comida. - segurou nos baldes com cada uma das mãos e se dispôs a andar em direção a casa humilde de madeira à frente, seguido por seu companheiro canino – Que coisa estranha. Parece que, depois de todos esses anos, tem uma coisa diferente no ar... Algo pesado e estranho, como a chegada de chuva na época errada.
Interrompeu o trajeto e esperou por alguns segundos, fitando o céu ainda escuro.
- Bem... Deve ser coisa da minha cabeça. – disse por fim, com um sorriso fraco, continuando seu caminho – Acho que é a idade...
Antes que pudesse ao menos terminar o raciocínio o jovem foi arremessado de cara no chão. Recebeu uma forte pancada na cabeça de algo vindo do alto. No processo, um dos baldes foi atirado longe, rolando pelo mato e derramando seu conteúdo. O outro ficou próximo à ele, que em reflexo, virou a boca do recipiente para cima antes que perdesse o pouco de leite que lhe sobrara. Uma coisa passou com extrema velocidade por sua nuca, caindo a alguns metros. Rufus saiu correndo atrás dela, latindo com vontade. O fazendeiro ainda ficou por alguns segundos sentado no chão, se recuperando do choque. Colocou instintivamente a mão livre no local atingido, constatando que ganhara um rasgo na cabeça: sua mão ficou tingida com sangue.
- Mas que belo presente... - murmurou fechando os olhos, um pouco atordoado. Jogou os braços para trás, apoiando suas mãos no chão e sentiu algo estranho sob elas - Mas o que...?
Sua mão ensangüentada lhe trouxe algo estranhamente incomum...
- Um colar?
Era formado por fios entrelaçados de prata, um pingente esmeradamente trabalhado e uma safira bem grande incrustada.
Mas existia algo mais naquele objeto precioso.
Ao examiná-lo, o rapaz pousou seus olhos na safira, que parecia hipnotizá-lo. Um estranho fluido se agitava dentro da pedra, algo semelhante a uma bolha cheia de água. Bizarro, mas ao mesmo tempo fascinante. Impossível não lhe dar atenção. Era como se estivesse... viva. Ela se comunicava com ele... Chamando-o.
Mal percebeu algo subindo pelos seus braços. Uma energia. Uma luz azul que o desenhava com runas desconhecidas. Ao menos, se notasse, ele estava permitindo que aquilo acontecesse. Mas não parecia sentir interesse, espanto ou medo. Não demonstrava sentimento algum. Na verdade, ele estava em completo transe.
Foram os latidos incessantes de Rufus que o trouxeram de volta à realidade. Voltou respirando rápido como se tivesse prendido a respiração por todo aquele tempo. Levantou cambaleante e foi ver o que o cachorro queria.
Rufus tinha encontrado uma ave caída.
- Sai pra lá, Rufus. Deixe-o em paz. - resmungou segurando o cachorro, que insistia em incomodar o bicho.
O pássaro estava durinho no chão, com os pés para cima e uma flecha atravessada em uma das asas. Abaixado, o rapaz olhou para um anel prateado em um dos pés da ave.
- Você não é selvagem. Possui um dono.
Aproximou cautelosamente a mão e tocou-o. Puxou a mão rapidamente quando a ave deu um pulo assustada. Ela tentou sair voando, mas com a asa lesionada, tudo o que fez foi pular várias vezes para longe e cair espatifada no chão novamente. Rufus foi atrás, como todo cachorro, latindo para seu dono como se perguntasse o que iria acontecer em seguida.
O jovem se pôs de pé. Olhou para o objeto em suas mãos e depois para a ave caída. O vento tocou o seu rosto mais uma vez enquanto ele pensava no que fazer.
- Muito bem... Disse ao Belmorn que os doces vão ficar por nossa conta. Já está tudo acertado, mas nós ainda precisamos de alguém para distraí-lo até que tudo fique pronto.
- E esse alguém por acaso sou eu?! O///o
- Ah Célia! Até parece que isso será um grande sacrifício pra você! Além do mais, será por pouco tempo. Chame-o para passear durante o pôr-do-sol... Um cenário muito romântico, até...
- Tia Jane, a senhora sabe que nós não...
- E depois, - continuou a mulher, cortando a jovem – vá para bem longe, conversem bastante, sei lá, seja criativa... E então, quando a noite chegar, vocês voltam. E estaremos esperando para a grande surpresa.
O sino preso à porta soou. A mulher e a jovem olharam instintivamente para trás. Célia, a moça de longos cabelos encaracolados, começou a suar frio.
- Ninra! Mas que surpresa vê-lo tão... cedo! - exclamou Jane com ar de sorriso fingido ao ver o jovem fazendeiro passar pelo umbral.
A Flora Floricultura era um lugar muito agradável. O colorido harmonioso das plantas e o cheiro gostoso de primavera davam ao ambiente uma sensação de bem estar e paz de espírito. Ao colocar os pés dentro do cômodo, Ninra olhou para as duas. Quando percebeu que a moça ainda vestia seu roupão por cima da camisola, desviou o olhar, levemente ruborizado.
- Ah... Desculpe vir incomodar a essa hora. Pensei que a loja já estivesse aberta.
- Mas você não está incomodando não. E a propósito, deixa eu te dar minhas felicitações. - Jane foi até ele e o envolveu em um caloroso abraço, deixando Ninra ainda mais acanhado - Pela hora da manhã, acho que sou a primeira.
- Bom... Tio Ralph falou comigo hoje quando acordei, mas não foi exatamente Meus Parabéns, então...
- Ótimo! – Jane abriu um sorriso maior ainda – Vinte anos é o início de novos tempos. É quando se sai definitivamente da infância e da adolescência. É uma década de colher o que se plantou com a ajuda de seu tutor. Agora, Ninra, é tempo de arcar com as suas responsabilidades. Finalmente o velho Ralph vai poder descansar.
- Duvido muito. Aquele lá não sai do meu pé. ¬¬
- E ele tem motivo para isso. E falando em responsabilidades... Já está na hora de se escolher uma esposa também. Têm tantas jovens bonitas e prendadas nesse vilarejo. U.U Como a Célia, por exemplo.
- Tia Jane!!! O///O - a garota deu um pulo de onde estava, passando por todos os tons possíveis de rosa.
- Mas eu não estou falando nenhuma besteira. - disse Jane olhando para a garota e voltando a encarar o rapaz - Estou?
Ele não sabia o que dizer. Achou melhor ficar calado.
- Tia... Por que a senhora não vai terminar seus afazeres, huh? - disse Célia fugindo do assunto - Aposto que a senhora tem bastante serviço até a noite, não é?
Jane fez um biquinho.
- Está bem, está bem. Se quer tanto que eu vá embora, eu vou. Mas não esqueça que...
- NINRA, VOCÊ ESTÁ SANGRANDO! - gritou a jovem ao ver um filete de sangue escorrendo pelo rosto do rapaz.
- Ah, isso? – colocou a mão na cabeça, tentando estancar o ferimento – Não é nada... Foi só um corte.
- Vem cá, vou dar um jeito nisso. - Célia lhe puxou pelo braço e o obrigou a sentar em um banco improvisado.
- Eu já disse que não é nada. - reclamou, fazendo cara feia – Já tinha até me esquecido que estava aí.
- O que aconteceu? – perguntou Jane preocupada.
- Foi só uma coisa que me acertou enquanto estava distraído.
A mulher deu um suspiro, abanando a cabeça.
- Sempre distraído. É por isso que está sozinho até hoje. – Ninra fez uma cara engraçada, sem querer entender o que a mulher quis dizer - Bom, vou ver se tem alguma pomada lá em casa. – e se dirigiu até a saída.
- Não, tudo bem, tia. Eu tenho tudo o que preciso aqui. - a garota puxou uma pequena caixa de madeira de uma das prateleiras com uma cruz pintada de vermelho - Papai faz questão de ter um suprimento médico completo em casa.
- Mas é óbvio que faz. Ele próprio é o desastre em pessoa. ¬¬
- Não fale assim do seu cunhado...
- Hmpf... Certo. Vou deixar vocês namorarem em paz. Tenho mesmo que terminar umas coisas em casa. E você, mocinha, não esqueça que tem um compromisso ao pôr-do-sol. - disse Jane passando pela porta.
- Já entendi tia... já entendi... ¬///¬
- Ouch! Isso... arde. - reclamou o rapaz quando Célia passou um algodão umedecido em seu ferimento - E só para constar, eu não tenho piolhos. ¬¬
- Eu sei. - ela abriu um sorriso, enquanto analisava seu couro cabeludo - Só quero ver se o corte é profundo. Ferimentos assim podem deixar seqüelas.
- Se até o pôr-do-sol eu não sair nu pelas ruas, gritando como um maluco, acho que nunca vou ter problemas com isso.
A loja de flores se encheu das gargalhadas da garota.
- Imagino que sim. – falou ela após se recuperar – Mas o sol mal nasceu. Até o fim do dia muita coisa pode acontecer. Não custa nada ficar de olho.
- Pode deixar, senhorita-sabe-tudo.
O rapaz deu um sorriso torto que fez a moça se esquecer de sua tarefa; ela ficou ali parada, encarando aqueles fascinantes olhos azuis.
- E então... – ele disse por fim, desviando do olhar dela – Por acaso, você já cuidou de pássaros com asas quebradas?
- Huh? Pássaros? o.O
- Eu cuido de flores, não de animais. - reclamou a moça quando chegou ao celeiro com o rapaz, devidamente vestida.
- Você cuidou de mim.
Ela teve que se controlar para não rir. Os dois se aproximaram de um canto cheio de feno.
- Mas esse aqui não é um simples pássaro. É um falcão.
O animal fora aninhado em um caixote cheio de palha. O bico estava enrolado em uma corda fina bem firme, entretanto, a ave permanecia bem calma, olhando para os visitantes com muita curiosidade.
- E o que você fez com o bico dele? - ela perguntou olhando mais de perto.
- Eu precisava tirar a flecha da asa. Se não tivesse amarrado o bico, ele teria feito minhas mãos em pedacinhos.
- Você quer dizer ela.
- Como sabe que é ela?
- Mai não é um nome feminino? É o que está escrito aqui nesse anel. - ela apontou e Ninra se aproximou, remexendo o metal para ver melhor.
- Que estranho, eu nem tinha notado.
- Quer dizer Dança.
Ninra arqueou uma das sobrancelhas.
- Onde tem aprendido essas coisas?
- Alguém tem que continuar estudando depois de todos esses anos... U.U
- Sei. ¬¬
- Você disse que tinha uma flecha na asa?
- Uh-huh - pegou a flecha partida que estava próxima do caixote - Feita de cedro-branco, ponta de aço. - murmurou pensativo.
- Cedro-branco... Cipreste? Usam-se madeira nobre para se fazer flechas?
- Não para amadores. Isso é arma de um arqueiro profissional, pode apostar. Se não me engano, os soldados dos Reinos do Sul costumam usar Cipreste como matéria-prima. Escutei isso de um latoeiro que passou por aqui há alguns meses.
- E por que um latoeiro iria falar sobre as armas de guerra do Sul?
- Ele estava tentando me vender um arco que eu podia jurar que era roubado. Mas isso não vem ao caso. ¬¬
- Ah.
Ninra começou a acariciar a cabeça do animal.
- Para onde quer que estivesse voando, era extremamente necessário que fosse abatida.
- Talvez ela estivesse levando alguma mensagem confidencial ou algo do tipo...
- Acho que tudo é possível...
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, encarando a ave. Então Célia soltou uma gargalhada que abafou com a mão.
- Certo, seja como for, nossa pequena espiã vai precisar estar voando muito em breve. Então vamos deixar o papo de lado e começar a trabalhar, sim?
Continua...
Giovana-chan é uma garota cheia de manias, poucos amigos, e dona de uma mente insana. Fã incondicional de cinema, livros e games, prefere atividades que envolvam sofás bem acolchoados. Morre de vergonha de falar em público e odeia a idéia de ter que falar de si mesma na terceira pessoa. |
Ah, essa parte tava realmente engraçada..kkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirMuito bom Gi-chan :D
Quer dizer que era só o prólogo?
ResponderExcluirhummm... esse conto promete!!
Excelente Gi, continue assim!
Excelente...
ResponderExcluirMas ainda acho que o post esta meio curto =P...
Show de bola!! Agora quero saber o que vai acontecer com Ninra *0* Tem desenho dele?
ResponderExcluir@Gisele, sim, tenho desenhos do Ninra *__* Assim que tiver tempo irei disponibilizar pra todos voces. \o/
ResponderExcluirNossa, mudou totalmente o cenário, rsrsrs. Gosto muito das suas descrições Gi, pois ajudam a visualizar vários detalhes. Espero ver seu livro publicado um dia!
ResponderExcluirTo curtindo
ResponderExcluirContinua matando a pau Gi
Ah, também gostei das expressões do estilo "¬¬" e "Oo"... Eu gosto de literatura, e isso é uma forma alternativa de inovar a forma de escrever um conto.
ResponderExcluirEu mesmo tenho pensada uma dessas formas de fugir do padrão... Mas primeiro eu vou ter que ter alguma coisa pra escrever, hehe
@Cavaleiro, não se preocupe, pois idéias é o que não me faltam. ;) Se precisar de alguma é só falar.
ResponderExcluirAh, ja sei! Porq vc num escreve sobre Cerdic? As aventuras dele antes de começar a campanha com o Clérigo?? Iria ser uma boa! ^^
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