Meditação: Criando um Vilão

Vilões são personagens quase essenciais numa narrativa RPGística. Eles devem se opor aos heróis, dar um motivo e uma finalidade para saírem por aí semeando a extinção por dezenas de raças humanóides e monstruosas quase as extinguindo totalmente em certas regiões, quando não no mundo inteiro. Ainda assim, vilões não raramente acabam sendo quase mais carismáticos que os próprios heróis que os combatem (e vencem). Não que vilões que sejam simplesmente maus não possam ser legais, mas, se você quer algumas dicas de como transformar aquele cara que um dia acordou de mal com a vida e resolveu destroçar o mundo num vilão cheio mais interessante, multi-facetado e carismático, então seja bem-vindo a mais um post meu aqui no blog do Clérigo!

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1. Um Vilão Luta por uma Causa (ou por causa de alguma coisa...)
Pode parecer algo idiotamente simples, mas muita gente esquece que este é o modo mais fácil de criar um vilão interessante. Assim como os PJs, vilões precisam de uma causa para saírem por aí espalhando mal, terror, calamidade, pestilência e funk pelas vidas alheias. Sim, talvez ele faça isso tudo simplesmente porque ele goste, ou, nas palavras super simbólicas e coesas do Mestre Arsenal (vilão de Holy Avenger. Pode parecer estranho, mas eu até gosto da hq): "Porque eu posso". Talvez a maldade seja oriunda pura e simplesmente da natureza de caráter deste indivíduo, do mesmo modo que a bondade emana naturalmente da clériga caridosa que sai por aí curando os necessitados.

"Quem disse que 'Porque eu posso'
não é uma causa justa?"

Mas quando falamos de uma causa, o leque de opções é realmente imenso. Assim como heróis, vilões podem trilhar seus caminhos praticamente pelos mesmos motivos: fé numa causa ou proposta religiosa (cultos necromânticos que vêem a não-vida como um milagre de ressurreição, fanatismo), vingança (talvez uma ordem de inquisidores tenha - justamente ou não - matado a família do personagem), necessidade (vampiros e outras criaturas precisam fazer mal a outras criaturas para sobreviverem, afinal), ambição (assim como alguns aventureiros querem se encher de PO's, alguns vilões também, oras!), lealdade (pode parecer estranho, mas muitas pessoas leais podem ser levadas a fazer o mal por terem sido enganadas a um juramento para com alguém com más intenções...)... Enfim, a lista seria imensa, e, embora minha fama por aqui não seja a de menores posts, tento não me delongar (muito) mais.

2. Um Vilão Contrário ao Herói

Caso clássico de opostos que se atraem. Violentamente.

 Este é o tipo mais clássico de vilão. Aquele que é o oposto (não necessariamente simétrico) do seu herói. Isso pode decorrer de várias origens. Talvez eles sejam de países rivais, fés adversas ou simplesmente torçam para times diferentes. Mas fato é que ambos são imiscíveis e estão naturalmente destinados a se enfrentarem até que um deles deixe de existir.

Criar este tipo de vilão na mesa de RPG é basicamente escolher um personagem e imaginar seu oposto. Se o herói é refinado e intelectual, o vilão será inculto e bruto. Ou talvez pode-se preferir manter certos traços comuns, fazendo com que todas as outras diferenças orbitantes ao redor deste ponto em comum saltem ainda mais aos olhos. Neste exemplo, poderia se manter a questão do refino e da intelectualidade, mas desviadas a um propósito muito mais desumano, ambicioso e... Mau, em termos simples. Isso tornaria o confronto dos dois muito mais uma fria e contida disputa de cavalheiros do que explosões hollywoodianas de espadadas e xingamentos insossos.

3. Um Vilão que Torna o Herói Aquilo que Ele Mais Odeia

"Sabe, eles mandaram vir aqui e comprar um..."

Bom, este é sem sombra de dúvidas o tipo mais difícil de vilão para se criar. Todavia, creio ser o mais gratificante também. Antes de tudo, ele requer alguém manipulador, com paciência, tempo, motivos e recursos para planos a longo prazo.

Basicamente, tudo que ele faz é criar um plano (quanto mais complexo e intrincado, melhor) para fazer os heróis talvez até sem saber, sob as suas ordens, ou armar para com que pareçam exatamente o tipo de seres que mais detestam. Isso inclui armações de roubo, assassinato, envolvimento com seitas malignas, etc. Provavelmente de mentirinha (é melhor quando não é). Mas o importante é que todos julguem os heróis talvez até pior do que o vilão propriamente dito.

Uma vez desvelado e aplicado todo o esquema, 11 a cada 10 PJs VÃO querer irremediavelmente partir com tudo para cima deste vilão sacripanta assim que possível.

Neste tipo, talvez valeria a pena incluir o clichezaço "Vilão que não é o que parece". De espiões a mestres dos disfarces, passando por lobisomens no vilarejo (ninguém nunca viu o bicho se destransformar para ter certeza de quem ele é...  E provavelmente quem ele é também não sabe da própria licantropia) e os típicos traíras de sempre, novamente as opções são várias. Ou talvez o par romântico/amigo do peito do herói (heroína) esteja apenas se fingindo de boa moça(o) para sem mais nem menos, fincar a faca no pescoço de alguém... Quem viu/leu Game of Thrones acho que sabe a que me refiro...


4. Um Vilão que se Vê Como Herói

Inquisição: "Olha, nós vamos te queimar vivo, mas é
pelo bem sua alma. Você entende, né?"

Derivado do item 1., este vilão crê piamente que está lutando por uma causa justa, razoável e louvável... Mesmo que o mundo inteiro lhe diga o contrário. Na visão (talvez não tão doida assim) ele é o herói e os heróis é que são os vilões. Que por exemplo, querem porque querem impedi-lo de destruir toda a civilização corrupta e hipócrita cheia de seres humanos egoístas para criar em seu lugar um plácido paraíso cheio de zumbis. Sob o seu controle, óbvio. Porque ele é humilde e solícito em suportar este fardo.

Talvez ele nem sequer se dê conta que esteja fazendo tanto mal assim. Ou saiba das conseqüências de seus atos, mas está "apenas cumprindo ordens".

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Bom, nem de longe creio que eu tenha abordado este assunto em sua totalidade. Mas acho que boa parte de como criar um vilão memorável, cativante e que seus jogadores ficarão com água na boca pela próxima vez em que enfrentá-los, estão bem representadas aí.

Como de costume, qualquer coisa, é só comentar!