Conto: Chloroform - parte 6

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O pesado sino dourado da Grande Catedral soou oito horas.

O quarto estava silencioso e fracamente iluminado pelos raios da manhã. Havia um homem estirado na cama. Não dormia, como era de se esperar. Não descansava, tampouco.

Elyan Graaver se remoía em seus pensamentos, sua mente trabalhando tão depressa que não conseguia parar. Não encontrava uma âncora, uma escapatória. A todo o momento seu cérebro era bombardeado de frases que começavam a fazer sentido, imaginando situações que em breve estariam fora de seu controle.

Levantou-se num pulo. Caminhou até o espelho diante de sua cama e se observou. Agora, sem a armadura reluzente, sem um título e sem sua espada fiel, largada a algum canto, ele parecia um homem qualquer. Os cabelos muito negros e os olhos levemente puxados eram herança da mãe, da qual sempre tivera tanto orgulho. Até aquele momento.

Suas mãos pousaram em seu pescoço, um ato quase involuntário, puxando o colarinho da camisa de linho. E lá estava ela. Sua marca de nascença em um tom escuro de pele.

Toc toc.

- Elyan? – a voz de uma mulher soou abafada do outro lado da porta.

- Entre. – o homem se endireitou a tempo de se virar para encarar a mãe.

- Você ainda está um pouco abatido. Não conseguiu dormir?

- Eu... não, não dormi. Ainda tem muita coisa a ser... esclarecida. Não encontrarei paz até lá.

Esta apenas suspirou, se aproximando do rapaz.

- Os homens desta casa realmente levam os assuntos até as últimas conseqüências. Está aí algo que herdou de seu pai.

- Mesmo? – resmungou com um ar desdenhoso.

- E parece que sua investida ousada acabou produzindo frutos afinal. – Elyan levantou a sobrancelha em sinal de interrogação e ela continuou, animada – O Imperador deseja vê-lo. Parece muito satisfeito de encontrar alguém no castelo com maiores esclarecimentos. Essa é a sua grande chance.

Silêncio.

- O que foi? Não está contente? – perguntou ela surpresa. O rapaz baixou os olhos.

- Eu só estava pensando, na verdade, me lembrando, de quando era criança. A senhora me disse que tínhamos uma coisa... uma marca, que provava para o mundo inteiro que eu era legitimamente seu.

- Sim... – concordou mostrando sua manchinha na clavícula dando um leve sorriso, ainda sem entender aonde ele queria chegar.

- Eu achava que era... único. – disse com um olhar significativo para a mulher.

- O que quer dizer com isso? – a mulher começou a sentir algo estranho no ar – Elyan, você é único para mim.

Ele tentou ler as reações da mãe. Mas não teve coragem de seguir adiante.

- É que... Eu não acho que tenha algo do Imperador. Ele é... tão diferente de mim. Talvez eu nunca consiga substituí-lo.

- Ah Elyan! – e soltou uma risada - É por isso que está angustiado? Não se preocupe querido, você será um ótimo líder. O tempo é o melhor professor que existe. Você apenas precisa de experiência. Por isso eu te digo para correr atrás de um cargo no Conselho. Vai ser ótimo para o seu crescimento.

- Humm... Imagino que sim. – murmurou pensativo.

- Agora vá. Sabe que seu pai não gosta de esperar.

- Tem razão, a paciência não é uma de suas virtudes. – e deu um beijo na testa da mulher sem esforço, já que era ligeiramente mais alto do que ela, e saiu andando pelo quarto – Onde estão os criados? Preciso me vestir já.

Apesar do sorriso, a mulher não gostou nada daquela conversa. Elyan sabia de alguma coisa.

Alguma coisa que ela tentara esconder durante anos.

Continua...

Giovana-chan é uma garota cheia de manias, poucos amigos, e dona de uma mente insana. Fã incondicional de cinema, livros e games, prefere atividades que envolvam sofás bem acolchoados. Morre de vergonha de falar em público e odeia a idéia de ter que falar de si mesma na terceira pessoa.