Saudações a todos! Nesta semana temática de ficção científica, eu quase não contribuo. Em primeiro lugar porque é uma área onde meus conhecimentos ficam entre o paupérrimo e o inexistente, mas que de uns tempos pra cá, algumas brainstorms me ajudaram a vir aqui escrever algo. Bom, espero que gostem!
Acho que já falei sobre a diferença entre os estilos narrativos ocidentais e orientais em algum post
aqui, já faz um bom tempo. Basicamente, nossas histórias diferem das dos indianos, chineses e japoneses (principalmente. Mas poderíamos incluir nesta lista também os árabes, vietnamitas, coreanos e as trocentas outras riquíssimas culturas pro lado de lá de Greenwich) na finalidade dessas histórias. Lá, elas parecem servir mais para ressaltar aspectos de justificação e manutenção da ordem e do status quo. Algo não muito diferente da tragédia grega, neste aspecto. Contudo, quando se fala a respeito de um gênero em especial, muita coisa vem à tona também.
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Ultraman: O rei do gênero: monstros borrachudos gigantes |
Este é o caso da ficção científica. Um dos primeiros parâmetros a ser definidos para se falar de como esse gênero funciona por lá é, antes de mais nada, resolver: "O que é ficção científica?". Bom, ficção por ficção, não temos muita diferença neste termo para "fantasia". Bem como temos "fantasia medieval", a "ficção científica" se destina basicamente à mesma coisa: criar uma história que de maneira alguma visa ser factual, realista ou historicamente ocorrida. Embora a proximidade com esses parâmetros possa ser muito desejada, esta preocupação está longe de ser prioritária. Acho que a grande diferença de "fantasia medieval" para "ficção científica" para muitos seria que na primeira, as licenças poéticas e "licenças de milagres" são oriundas da magia, ou de fontes certamente não científicas, como os deuses. Já na "ficção científica" temos o advento primordial da tecnologia. Seja o vapor do steampunk, os computadores da Matrix ou as máquinas de Exterminador do Futuro, todas elas certamente se originaram do dia em que o bendito primata resolveu usar uma ferramenta (qualquer semelhança com 2001: Uma Odisséia do Espaço NÃO é mera coincidência).
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Changemans e sua Power-Bazuca: O melhor jeito de mandar
um monstro passar no setor de RH do seriado... |
Aqui, vale um grifo meu: Muitos de nós podem ser levados a imaginar que na ficção científica, tudo precisa seguir parâmetros científicos, regras pétreas que prendem nossos pés ao chão com o vigor da gravidade de Marte. Ledo engano. Se para a magia "o céu é o limite", o grande mestre Arthur Clarke a imita em sua primeira lei: "Se um cientista velho e experiente diz que algo é possível, ele está provavelmente certo. Se o mesmo cientista velho e experiente diz que algo é impossível, ele está provavelmente errado". Este raciocínio é extremamente consonante com suas outras leis. Ou seja, não tenha medo de chutar o balde com este gênero. Contanto que haja uma boa justificativa, o céu é o limite do mesmo jeito que com magia! Este fato é exatamente o que permite Matrix e Star Wars terem tanto brilho mesmo que dêem algumas esbarradas em algumas leis da Física, por exemplo.
Os orientais parecem levar isso ao extremo. Não raramente vemos construções tecnológicas e efeitos especiais belíssimos aos olhos, mas que certamente agrediriam a mente analítica profissional de qualquer engenheiro estrutural.
Gunbuster, por exemplo, não se intimida em apresentar naves mencionadas como tendo múltiplas vezes o tamanho da Terra (sabe-se lá de onde tiraram tanto minério, em primeiro lugar).
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Akira: Pós-apocalíptico cyberpunk obrigatório |
Outra fonte de ficção científica prolífica nos meios orientais são os
tokuzatsus (chamados por alguns otakus mais satíricos -- como eu -- de
toskozatsus, pois os orçamentos e (de)feitos especiais eram quase risíveis. Basicamente, é o gênero de super-herói transformável que luta contra monstros gigantes para salvar Tokyo. Porque nenhuma outra desgraça alienígena japonesa conhece outro lugar. Vide o
post da Bel sobre tendências de aliens caírem SEMPRE nos EUA). Nesses seriados (ex.:
Jaspion,
Changeman,
Flashman, etc.), não raramente as ameaças ao JAPÃO são extraterrestres. Acho que apenas em
Kamen Raider Black os vilões são os espíritos elementais que querem salvar a Terra do agente poluidor humano. Neste gênero temos os já batidões clichês de monstros gigantes, robôs gigantes, golpes finais, e coisas montáveis. Inclusive os próprios robôs gigantes para combater monstros gigantes em cidades em miniatura.
Uma nota de curiosidade pessoal minha a respeito da instalação elétrica dos robôs gigantes desses gêneros: Por que raios qualquer tapa ou tropeço que eles sofrem faz com que faíscas caiam aos torrões na cabine de comando? Não é possível que os seres avançados desenvolvam uma tecnologia mecatrônica tão avançada assim... E não saibam fazer uma instalação elétrica que não ameace mandar tudo pelos ares em qualquer quebra-mola! Bom, enfim. A questão é que este gênero segue praticamente os mesmos padrões narrativos do Western. Não temos lá grandes variações na ética, valores e até mesmo temas de inimigos. Mas acho que a grande sacada é mostrar o trabalho em equipe (principalmente em
Flashman, onde cada protagonista tem um "poder especial", mesmo sem se transformar), emblematizado quando os heróis se juntam numa só unidade coletiva. Seja num robozão ou numa "Super Bazuca!".
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Macross e seus Valkyries: combates estelares, drama e...
Música. |
Como qualquer fã de anime bem sabe, a maneira japonesa de tratar a animação difere MUITO da americana. Enquanto em praticamente todo o hemisfério ocidental, animação é sinônimo de infantil, por lá ela é vista como uma maneira mais barata de produzir empreitadas cinematográficas. A mídia anime como um todo é onde uma das características mais primordiais da ficção científica japonesa: O pós-apocalpsismo (essa palavra existe?). Bom, temos coisas pós-apocalípticas aqui aos montes também. A grande diferença é que o Japão
É um país pos-apocalíptico. Até hoje é o único país que sofreu
DOIS ataques nucleares, e isso ainda marca o inconsciente popular de lá de maneiras bem fortes. Seja no clima do desencanto tecnológico de
Akira, ou na furiosa rajada de energia do
Godzila, as referências à energia nuclear e "mutações" são evidentes.
Por outro lado, o cinema live-action japonês também não fica para trás. O excelente (para mim, pelo menos)
The Returner ("O Retorno", no Brasil) põe Takeshi Kaneshiro (mais conhecido por aqui por
O Clã das Adagas Voadoras e
Onimusha 2) no papel de um destrambelhado herói que se vê como único capaz de ajudar uma garota enviada do futuro cuja missão é nada mais nada menos do que impedir o genocídio da humanidade por uma invasão alienígena.
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Tenchi Muyo: Garotas belíssimas dando em cima de um banana.
Mas creia-me, a ficção científica está lá também... |
Falar em futurismo japonês sem sombra de dúvidas é falar sobre a evolução do seu conceito de
mech-design. Em não raros momentos, são máquinas tão fantásticas que chegam a ganhar mais destaques que os próprios humanos que as pilotam e deveriam ser os protagonistas da história (
Gundam,
Macross). E se
Star Wars sacudiu (e sacode até hoje) a cultura pop ocidental, a "
space opera" japonesa também deleita os olhos e ouvidos com clássicos como a saga
Macross (com conceitos na minha opinião, revolucionários, como trilhas sonoras com letras cantadas em idiomas totalmente alienígenas, e ainda assim tocantes e tecnológicas em Macross Plus. Um dos clichês da série é a atenção à trilha sonora, tema principal e a "canção da guerra") e
Yamato Takeru (no Brasil: "Patrulha Estelar"). Em ambas, a história é basicamente a mesma. Os alienígenas destroçaram a vida na Terra, e agora os sobreviventes precisam se virar para... Bem, Sobreviver. Essas últimas décadas, porém, viram uma revolução neste conceito, ao apresentar mechas totalmente científicos, mas orgânicos (
Evangelion). Embora eu ache que mais ninguém atentou ao fato de que por vezes eles parecem mais humanos até mesmo que os próprios personagens humanos da série.
Bom, em linhas gerais, era mais ou menos isso que eu tinha para mostrar. De modo geral, a narrativa japonesa de ficção científica não se norteia pela verossimilhança. Seu ideal maior parece ser apresentar uma narrativa ou uma estética cativantes, mas nem por isso atropelando o realismo. Tanto em que em alguns casos (
Tenchi Muyo) as viagens interplanetárias, temporais e por dimensões paralelas é apenas um pano de fundo para a história em si.
Uia.... Adorei o post Hayashi.
ResponderExcluirMe fez lembras do clássicos que assistia quando era criança: Jaspion, Changemans, Jiraya entre outros.
Muito bom, não gosto do sci-fi ocidental acho tosquinho (exceto star wars) mas star trek, star gate e similares não me agradam, agora o oriental, na hora que vi a imagem do Kaneda de Akira ali, até chorei de emoção! melhor anime!
ResponderExcluirComo bom Otaku, adquiri recentemente a lata especial de Flashman e o box do Jaspion, e tô relembrando como eram legais (e toscos!)
ResponderExcluirMas ironicamente o gênero de Sci-Fi que menos me agrada é o mecha. Claro que um Evangelion clássico é um must-see, mas fora isso não vejo nenhuma evolução no gênero, nada que diferencie uma obra da outra, e acabo por deixar passar.
Eu nunca fui muito fã de sci-fi japonesa, apesar de gostar do Jyraya quando era menor. Ah, e tinha os cybercops tb, que eu achava maneiro. Não dá pra negar, era muito divertido, apesar de tosco às vezes.
ResponderExcluirMas ao contrário do Utarefson, eu achava o Mechas muito legais, tanto que estou preparando uma adaptação para 3:16!
Obrigado a todos.
ResponderExcluirBom, na verdade, há ainda todo um volume exponencialmente maior de tendências, gêneros, influências e obras para se explorar e discutir. O post é apenas um indigno apanhado bem insosso de um assunto incrivelmente denso e rico.
A evolução do mech-design é algo q praticamente gera uma tendência a cada DÉCADA, por isso fica meio difícil notar alguma diferença. Mas, se em Yamato ainda se pensava em realmente lançar um navio para o espaço (a Macross já é mais uma "nave" mesmo), ou se em séries de robôs gigantes eles pareciam mais decorativos do q funcionais, isso mostra uma abordagem diferencial ao longo dos tempos.
Como sempre postaços com o selo Hayashi ISO 9999 XD
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